Beleza: o eco da voz de Deus

Santo Agostinho
“Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Te amei! Estavas dentro e eu fora Te procurava. Precipitava-me eu disforme, sobre as coisas formosas que fizeste. Estavas comigo, contigo eu não estava. As criaturas retinham-se longe de Ti, aquelas que não existiriam se não estivessem em Ti. Chamaste e gritaste e rompeste a minha surdez. Cintilaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume, aspirei-o e anseio por Ti. Provei, tenho fome e tenho sede. Tocaste-me e abrasei-me no desejo de tua paz” (Santo Agostinho, Confissões X).

Quis Deus, em sua sabedoria eterna, estabelecer para as criaturas racionais um estado de prova. Anjos e homens deveriam ser submetidos a uma situação por onde escolhessem a Deus por si próprios antes de O gozarem definitivamente.

Rejeitando a supremacia do ser que os tirara do nada, eles ambicionaram o cetro do universo e atraíram sobre si o rigor da justiça divina. Assim se explica a expulsão de nossos primeiros pais do Paraíso, que de modo bem diverso ao dos anjos, ainda receberam a promessa da redenção. Era preciso que transcorressem os séculos e os milênios a fim de que os “degredados filhos de Eva” compreendessem profundamente as consequências do primeiro pecado e de seus pecados atuais para enfim restituírem ao Senhor a glória e supremacia que Lhe é devida.

Aqui caberia uma indagação. Tendo Deus castigado a humanidade pecadora com os sofrimentos da vida presente, e condicionado sua salvação à fé que viesse a manifestar, não se esperaria d’Ele alguma manifestação que confirmasse seus servos obedientes nas vias que abraçaram?

A resposta de Santo Agostinho, neste trecho de Confissões, é clara. Deus Se comunica com seus filhos de diversas formas, desde o Antigo Testamento, e sobretudo depois da Encarnação. Poderíamos citar as Escrituras, os profetas, os fenômenos da natureza e os prodígios sobrenaturais como manifestações antigas da presença e vontade divinas. Já no regime da graça, temos especialmente os Sacramentos, a tradição, os carismas religiosos e os Papas, que se afiguram como eficazes manifestações da ação divina no mundo e na História.

Entretanto, para os homens de nossa sociedade pós-moderna, profundamente ateia e anticatólica, estas formas significam pouco ou quase nada. Não se interessam pelas ciências sagradas, não reconhecem a missão salvífica da Igreja e nem sequer a divindade de Cristo. Como Deus poderia se comunicar com eles?

Da mesma forma pela qual atuou na alma do Doutor da Graça: a beleza! Através de perfeições eminentemente superiores às humanas – as sobrenaturais – porém, traduzidas em tipos humanos, em cerimônias, em formas litúrgicas e em obras de arte, a humanidade contemporânea pode ouvir os ecos da voz de Deus. Se corresponder a este chamado, ela exclamará qual o Bispo de Hipona: “Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Te amei!”

Por Irmã Carmela Werner Ferreira, EP.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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