Bebês “descartáveis”

Aumenta o
número de fetos com deficiência que são abortados

Pe. John
Flynn, LC

ROMA,
domingo, 16 de janeiro de 2011(ZENIT.org) – Os pró-aborto sempre defenderam o direito das
mulheres de controlar seus corpos e de ter o nascituro como quiserem. Em uma
decisão estranha, um tribunal belga aprovou esse raciocínio até afirmar que uma
criança tem o direito de ser abortada.

A revista
belga Revue Générale des Assurances et responsabilité publicou a sentença do
Tribunal de Apelação em Bruxelas, de 21 de setembro, sobre o caso de uma
criança nascida com deficiência, após um erro no diagnóstico pré-natal, de
acordo com a revista Gènéthique de 29 de novembro a 3 de dezembro.

O tribunal
decidiu que os pais da criança poderiam exigir indenização dos médicos que não
conseguiram detectar a incapacidade. Eles alegaram que, ao legalizar o aborto
terapêutico, os legisladores pretendiam que as mulheres pudessem evitar dar à
luz crianças com deficiências graves, “tendo em conta não só os interesses
da mãe, mas também os do nascituro em si”.

Assim, os
juízes consideraram que a criança deve ter o “direito” ao aborto, se
a sua deficiência for diagnosticada corretamente.

Esta
reportagem sobre a sentença não explicou como o tribunal chegou a considerar o
nascituro como capaz de ser sujeito de direitos, e por que esse direito era
apenas o de ser assassinado, e não o de viver.

Uma boa
mãe?

A escritora
britânica Virginia Ironside deu mais um passo a mais na aceitação cada vez mais
comum da visão de que é melhor abortar bebês com deficiência, ao declarar que
preferiria afogar seu filho para acabar com seu sofrimento, informou a 5 de
outubro o jornal Daily Mail.

Ela fez o
comentário durante um programa de rádio na BBC1, Sunday Morning Live. Ironside
disse também que abortar um bebê indesejado ou com deficiência “é o ato de
uma mãe amorosa”.

Suas
declarações provocaram muitas críticas. Peter Evans, falando em nome da Christian
Medical Fellowship, disse: “Para nós, fazer julgamentos de que uma pessoa
não é digna de viver, não é digna da oportunidade de viver, é algo
perigoso”, informou o Daily Mail.

Ian
Birrell, pai de uma filha com deficiência, de 16 anos, assinou um artigo
adjunto em que reconhecia as dificuldades de cuidar de uma criança deficiente,
mas também disse que é uma experiência intensamente gratificante. Acusou
Ironside de mostrar uma maneira de pensar muito comum, segundo a qual as
pessoas com deficiência seriam inferiores.

“Imagine
a indignação se a Sra. Ironside tivesse dito que as crianças negras ou os
adolescentes gays deveriam ser exterminados”, disse Birrell.

Outros,
porém, a defenderam. O colunista do jornal Guardian, Zoe Williams, afirmou que
ela tinha “uma opinião válida e foi corajosa ao expressá-la” em um
artigo em 5 de outubro.

Williams
disse que o argumento de Ironside era um passo crucial, pois ela tinha
formulado a dimensão moral de ser pró-aborto. Foi como um golpe ao que William
descreve como “a autoproclamada superioridade moral dos
antiabortistas”.

O Sunday
Times deu oportunidade a Virginia Ironside para que explicasse melhor o seu
raciocínio, em um artigo de opinião publicado em 10 de outubro. Argumentou que
as mortes misericordiosas de pessoas idosas e doentes acontecem e que os
juízes, em geral, se mostram clementes com elas. Estender esta prática ao feto
ou ao recém-nascido é exatamente o que faria uma boa mãe, disse.

Novos
testes

A postura
de eliminar aqueles considerados indignos receberá ajuda dos novos exames que
tornarão mais fácil a detecção de anormalidades na gravidez. Foi desenvolvido
um exame de sangue para as mulheres grávidas capaz de detectar quase todas as
doenças genéticas, informou em 9 de dezembro o Times de Londres.

Se os
exames mais amplos confirmarem os resultados preliminares, o teste poderia
substituir técnicas mais invasivas e arriscadas, como a amniocentese, que exige
a inserção de uma agulha no útero para retirar uma amostra de tecido fetal.

Da mesma
forma, o exame poderá ser usado a partir da primeira semana de gravidez, assim
como na oitava, bem antes dos processos atualmente em uso, dando à mulher mais
tempo para decidir abortar ou não, acrescentou o Times.

Alasdair
Palmer, comentando estas notícias no jornal Telegraph de 11 de dezembro,
afirmou que exames como esse evitariam que pessoas como ele nascessem. Palmer,
que sofre de esclerose múltipla, falou da preocupação sobre um possível aumento
no número de abortos de bebês com defeitos genéticos, incluindo os menos
importantes, como o lábio leporino.

Rotineiramente,
seriam abortados os bebês com síndrome de Down e, após a aceitação desta forma
de pensar como uma prática aceitável, seria mais difícil traçar uma linha.
“Devemos abortar aqueles que sofrem de autismo, dislexia, ou os são
excessivamente baixos?”, perguntou-se.

“Não
vejo base alguma que permita que a lei especifique, e muito menos que imponha,
um princípio que diga: este defeito genético é suficientemente ruim e é melhor
que o bebê não nasça, mas este outro não é tão ruim”, refletiu Palmer.

Mesmo sem
os novos exames, já houve um significativo declínio no nascimento de crianças
com doenças genéticas devido ao aborto seletivo. Uma longa reportagem da Associated
Press, publicada em 17 de fevereiro, citou a Dra. Wendy Chung, diretora de
genética clínica da Universidade de Columbia, quem disse que, devido aos
diagnósticos, diminuiu a porcentagem de doenças como a de Tay-Sachs.

Nos últimos
anos, têm aumentado os exames para a fibrose cística e, em Massachusetts, por
exemplo, o nascimento de bebês com esta doença caiu de 29, em 2000, para apenas
10, em 2003.

Na
Califórnia, relatou a Associated Press, Kaiser Permanente, uma organização de
saúde de grande porte, oferece diagnóstico pré-natal. De 2006 a 2008, 87 casais com
mutações de fibrose cística concordaram em examinar seus fetos e foi constatado
que 23 tinham a doença; 16 dos 17 fetos que teriam uma forma grave desta doença
foram abortados, e também 4 dos 6 cujo prognóstico seria menos grave.

Às vezes,
os casais optam por abortar mesmo se não há problemas genéticos, conforme
relatado em 10 de dezembro pelo jornal Canadian National Post.

Quando um
casal descobriu que estava esperando gêmeos, os cônjuges acharam que não
poderiam lidar com dois filhos, além do menino que já tinham. Então, eles
decidiram fazer o que é chamado de “redução seletiva”, e um dos
gêmeos foi abortado.

O artigo
citou uma obstetra de Nova York, Mark Evans, especialista nesta técnica, quem
disse que muitos casos têm a ver com casais que estão em seu segundo casamento
e já têm filhos, então só querem mais um.

Cada ser
humano é único

“Deus
ama cada ser humano de maneira única e profunda”, declarou Bento XVI em 13
de fevereiro, em seu discurso aos membros da Academia Pontifícia para a Vida.

O Papa
destacou que a bioética é um campo de batalha crucial na luta entre a
supremacia da tecnologia e a responsabilidade moral do ser humano. Neste
conflito, é vital manter o princípio da dignidade da pessoa humana como fonte
de direitos dos indivíduos.

“Ao
invocar o respeito à dignidade da pessoa, é essencial que este seja pleno,
total e sem sujeições, exceto a de reconhecer que se está sempre diante de uma
vida humana”, disse ele.

O Pontífice
advertiu que a história mostra quão perigoso pode ser o Estado quando proclama
que é a fonte e o princípio da ética e legisla sobre assuntos que afetam a
pessoa e a sociedade.

O passo do
direito a abortar ao direito de ser abortado demonstra claramente o perigo de
abandonar os princípios éticos fundamentais.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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