Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 349 – Ano 1991 – p. 241
… ATÉ O FIM
“Não; não pares.
É graça divina começar bem.
Graça maior persistir na
caminhada certa,
Manter o ritmo. . .
Mas a graça das graças é não
desistir.
Podendo ou não podendo,
caindo embora aos pedaços,
CHEGAR ATÉ O FIM . . . !”
Estas palavras de D. Hélder Câmara
vêm a ser precioso programa de vida. Ir até o fim dos bons propósitos, sem
ceder ao desânimo ou à tentação da volubilidade, apesar da monotonia da
caminhada … , tal é o segredo das grandes façanhas. Há uma santa teimosia,
penhor de vitória ou de entrada no Reino dos Céus. É o Senhor quem o diz: “O
Reino dos Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele” (Mt 11,12). Está
claro que não se trata aqui da violência armada, mas da fortaleza daqueles que
sabem superar todos os obstáculos para não perder a verdadeira meta.
Em outra passagem, diz Jesus
que a semente boa (a Palavra de Deus) dá fruto múltiplo em clima de
perseverança ou paciência tenaz (cf. Lc 8, 15). Pouco adiantam a fé e o amor que
não vão até o fim. Quem percorre a Escritura, encontrará muito freqüentemente a
recomendação da perseverança heróica: “Sê fiel até a morte, e eu te darei a
coroa da vida” (Ap 2, 10; cf. Mt 10, 22; 24, 13).
Compreende-se bem tal
ênfase. Já um famoso ateu de nossos tempos, Albert Camus (+ 1960), dizia que o
que mais o contristava era ver que a maioria dos homens não chega ao termo do
seu ideal. Param no meio do caminho, pois tudo o que é grande e belo, também é árduo
e cansativo.
E a que haveria de se
comparar uma criatura que não chega ao seu fim? – Poderia dizer-se que ficou
anã no plano espiritual ou na linha da sua estatura definitiva. Uma estatua física
anã não implica culpa da parte do respectivo sujeito, mas o ser anão(ã) no
tocante aos valores definitivos é muito grave, se se deve à covardia ou à pusilanimidade.
O medo e a mesquinhez de ânimo
são males que ameaçam todo homem. O cristão, chamado a tudo o que há de mais
nobre, tem consciência disto e pede ao Senhor a graça das graças: “a de não
desistir; podendo ou não podendo, caindo embora aos pedaços, CHEGAR ATÉ O FIM!”