Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 441 – Ano: 1999 – p.
49
(1 Cor 12,31)
Escrevia o filósofo grego
Aristóteles (+ 322 a.C.),
baseado em seu bom senso, palavras que o cristão só pode endossar e
desenvolver. Com efeito (…)
“Não se devem dar ouvidos
àqueles que aconselham ao homem, por ser mortal, que se limite a pensar coisas
humanas e mortais. Ao contrário, na
medida do possível, precisamos de nos comportar como imortais e tudo fazer para
viver segundo a parte nobre que há em nós”.
Com estes dizeres,
Aristóteles opunha-se à tendência a certa mediocridade ou à falsa humildade,
tendência que eleva o homem a se contentar com valores perecíveis e ilusórios,
“como se fosse mortal”. Aristóteles
percebia que no ser humano existe algo de muito nobre que o deve impelir a
viver “como se fosse imortal”. O
filósofo não saberia definir exatamente o ideal que ele apresentava aos seus
discípulos, mas, falando em nome do homem eterno, ele entrevia algo que toca o
fundo de cada ser humano e suscita grandes aspirações.
O cristão assume a
observação de Aristóteles e dá-lhe sentido pleno. Ele sabe que tem uma alma imortal, chamada a
participar da bem-aventurança do próprio Deus, a máxima dádiva possível,
“aquilo que o olho não viu …nem o coração do homem jamais percebeu” (1Cor
2,9). Daí a necessidade de ultrapassar
os bens caducos que este mundo lhe oferece, e aspirar ao que é mais nobre. Com outras palavras ainda: o cristão sabe
que, desde o seu Batismo, ele é chamado à santidade ou à perfeição; não há
vocação para a mediocridade nem para a pequenez espiritual. Este chamado é dom de Deus, não mérito da
criatura, de modo que se concilia com a humildade. É o que lembra o Concílio do Vaticano II:
“Todos os fiéis cristãos, de
qualquer estado ou categoria, são chamados à plenitude da vida cristã e à
perfeição do amor (= santidade)” (Lumen Gentium nº 40).
Disto se conclui que aspirar
à santidade, “aos dons mais elevados”, não à arrogância presunçosa nem sonho
inexequível, mas é o normal de todo
cristão, por mais utópico que isto lhe pareça.
Se o Senhor Deus chama, Ele tem as graças necessárias para converter o
pecador e fazê-lo chegar à plena configuração com Cristo através da fidelidade
e da coragem do dia a dia. É esta
fidelidade silenciosa e magnânima que leva à santidade. Interessante é notar que, quando a Igreja se
dispôs a canonizar um(a) Santo(a), um dos primeiros passos do processo consiste
em averiguar se foi heroico(a) na prática das virtudes. Isto bem confirma que o heroísmo ou a
magnanimidade e a nobreza de atitudes pertencem ao bê-a-bá da vida do cristão.
A Quaresma, que o mês de
fevereiro vivencia, é o tempo oportuno para refletir a respeito e sacudir todo
tipo de lerdeza espiritual, para que se dilatem os corações e se elevem as
aspirações aos dons mais elevados!