As grandes verdades do Natal

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O dia do Natal de Jesus relembra para todos os cristãos
verdades fundamentais da fé. Uma delas é que à natureza divina da Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade, se uniu, no dia da Anunciação, a natureza humana
recebida da Virgem Maria pelo poder do Espírito Santo. Os teólogos empregam
então, com propriedade, o termo  união
hipostática. Santo Agostinho explica este dogma de fé ao dizer que o Verbo de
Deus recebeu  o que não era, não perdendo
o que era.  Cristo, de fato, como ensina
São Leão Magno, “desceu de tal modo, sem diminuição de  sua majestade 
ao tomar a condição de nossa humildade, que, uniu a verdadeira
condição  de servo àquela condição em que
é igual ao Pai e ligou ambas as naturezas com o vínculo de tão íntima aliança
que nem a inferior com tão grande glorificação ficou absorvida, nem a superior
diminuída com a assunção que realizou”. Note-se que o vocábulo assunção é
tão  técnico como a expressão
hipostática. Trata-se de uma união cuja iniciativa cabe à Segunda Pessoa divina
e que resulta na elevação da natureza assumida, uma vez que o resultado final é
algo humano-divino que se dá. Por isto andou em clamoroso erro  Eûtiques, heresiarca grego,  que, no século quinto, ensinava que a
natureza humana de Cristo se dissolvera na natureza divina, o que,
evidentemente, jogava por terra todo efeito da Encarnação de Jesus que veio
para resgatar a humanidade pecadora. O Concílio de Calcedônia em 451 condenou
esta heresia.
O Redentor pagaria o que a nossa condição terrena tinha em dívida
para com Deus. É, deste modo, que Jesus se tornou o único Mediador como
convinha ao remédio necessário à raça humana, ou seja, que Ele pudesse morrer
em virtude de uma das naturezas e ressuscitasse em virtude da outra. Enquanto
Deus, foi o médico celestial; enquanto homem, pôde resgatar a estirpe à qual
passou também a pertencer. Daí resulta imensa gratidão ao Todo-Poderoso que,
pela muita misericórdia  que nos devotou,
tendo compaixão de nós, estando nós mortos por causa do pecados, nos fez
reviver em Jesus para sermos nele  uma
nova criação de suas poderosas mãos. 
Corresponder à gratuidade de Deus, renascendo para uma vida nova, eis aí
a obrigação de todos que têm fé. Cumpre revestir o homem novo de que fala o
Apóstolo Paulo, deixando para trás tudo que não está de acordo com o que Jesus
ensinou. É o conselho de Leão Magno num de seus mais belos sermões do Natal:
“Reconhece, ó cristão, a tua dignidade, e, já que foste feito participante da
natureza divina, não queiras voltar à antiga vileza com procedimentos indignos
de tamanha nobreza”. Jesus nasceu, de fato, para nos transladar  para a luz do reino eterno do Ser Supremo, do
qual é preciso começar a participar já nesta terra. Diante do Presépio é necessário
que o batizado se lembre que, ao ser regenerado na pia batismal, se tornou o
templo vivo da Trindade Santa e que, portanto, não pode cometer ações  por cuja perversidade  expulse de si tão grande Senhor para se
submeter à escravidão ignóbil do Diabo.
Importância tal tem cada um daqueles
que Jesus veio remir que o preço desta redenção, a qual se iniciou em Belém, é
o próprio sangue divino. Que, então, perante a manjedoura se renuncie às obras
da carne de que fala São Paulo na Carta aos Gálatas (5,19). Apenas assim as
alegrias do Natal serão consistentes e não uma mera comemoração externa de um
fato histórico. O referido São Leão Magno frisa no seu texto a palavra HOJE:
“Nasceu hoje o nosso Salvador”. A mesma eficácia salutar que, um dia, tal
acontecimento trouxe em Belém, se dá para aqueles que se imergem nesta festa
singular através da participação na liturgia. Este é o grande sinal  de que os atos salvíficos de Cristo  se realizam novamente, conferindo à alma fiel
as graças vinculadas a tal evento. Hoje nasce Jesus para as almas dispostas com
fé viva e ortodoxa a recebê-lo com júbilo no seu coração!

* Professor no
Seminário de Mariana – MG

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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