As 50 proposições do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia – Parte 3

Proposição 22

Epiclese
Porque a lex orandi exprime a lex credendi, é essencial viver e aprofundar a fé
na Eucaristia e partir da oração com a qual a Igreja desde sempre a celebra,
isto é, a Oração eucarística.
Em particular, a espiritualidade eucarística ganha força reconhecendo a
importância do Espírito Santo que transforma as obras e faz com que a
comunidade toda, inteira, torne-se sempre mais corpo de Cristo. O Sínodo deseja
que se mostre com maior clareza a ligação da epiclese com a história da
instituição.
Torna-se assim mais evidente como toda a vida dos fiéis seja, no Espírito Santo
e no sacrifício de Cristo, uma oferta espiritual dada ao Pai.
Neste quadro, o Sínodo adverte pela necessidade de que seja mais bem explicada
a natureza da diversa causalidade implicada na fórmula: “A Igreja faz a
Eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja”.

Proposição 23

O sinal da paz
A saudação da paz na Santa Missa é um sinal expressivo de grande valor e
profundidade (cf. GV 14, 27). Todavia, em certos casos, assume um peso que pode
se tornar problemático, quando se prolonga muito tempo ou verdadeiramente
suscita qualquer confusão justamente antes de receber a Comunhão.
Talvez seja útil avaliar se o sinal da paz não possa ser colocado em um outro
momento da celebração, também tendo em conta os costumes antigos e veneráveis.

Proposição 24

Ite missa est
Para tornar mais explícita a ligação entre Eucaristia e missão, que cabe ao
coração deste Sínodo, preparem-se novas fórmulas de despedida (bênçãos solenes,
orações sobre o povo ou outras) que sublinhem a missão no mundo dos fiéis que
participaram da Eucaristia.

«Ars celebrandi»

Proposição 25

A dignidade da celebração
Quantos participam da Eucaristia são chamados a viver a celebração com a
certeza de ser o povo de Deus, o sacerdócio régio, a nação santa (cf. 1 Pd 2,
4-5.9). Nessa cada um deles exprime a própria vocação cristã específica.
Aqueles que entre os demais receberam um ministério ordenado o exercitam
segundo seu próprio grau: os Bispos, os presbíteros e os diáconos. Em
particular o rol dos diáconos e o serviço dos leitores e dos acólitos merecem
uma maior atenção. Sobretudo os Bispos, como moderadores da vida litúrgica,
promovam uma digna celebração dos sacramentos na própria diocese, corrigindo os
abusos e propondo o culto da igreja catedral como exemplo.
Este sínodo renova seu apreço pelo cuidado que os presbíteros prestam no
celebrar a liturgia de modo digno, “atende ac devote”, em grande benefício do
povo de Deus. Esses documentam de tal modo a importância da fé, da santidade,
do espírito de sacrifício e da oração pessoal para celebrar a Eucaristia.
Evite-se o excesso das intervenções que podem conduzir a uma manipulação da
Santa Missa, como, por exemplo, quando se substituem os textos litúrgicos com
textos estranhos ou quando se dá à celebração uma conotação não-litúrgica.
Uma autêntica ação litúrgica exprime a sacralidade do mistério eucarístico.
Esta deve transparecer nas palavras e nas ações do sacerdote celebrante,
enquanto ele intercede ante Deus Pai seja com os fiéis seja por si.
Como todas as expressões artísticas também o canto deve ser intimamente
harmonizado com a liturgia, participar eficazmente a seu fim, ou seja, deve
exprimir a fé, a oração, o entusiasmo, o amor a Jesus presente na Eucaristia.
O valor, a importância e a necessidade da observância das normas litúrgicas são
colocados na luz. A celebração eucarística respeite a sobriedade e a fidelidade
ao rito vivido pela Igreja, com aquele senso do sagrado que ajuda a viver o
encontro com Deus e com aquelas formas também sensíveis que o favorecem
(harmonia do rito, das vestes litúrgicas, do adorno e do lugar sagrado). Será
importante que os sacerdotes e os responsáveis pela pastoral litúrgica façam
conhecer os vigentes livros litúrgicos (Missal, Lecionário) e a relativa
normativa.
Para guiar os fiéis ao mistério celebrado é necessária uma catequese prévia que
os favoreça na ativa participação impregnada de autêntica piedade. Os ministros
ajudem esta plena participação com a proclamação dos textos, e recomendando
tempos de silêncio, gestos e atitudes apropriadas.

Proposição 26

Inculturação e Celebração
Para uma mais eficaz participação dos fieis na Eucaristia, este Sínodo deseja a
promoção de uma maior inculturação no âmbito da celebração eucarística, tendo
em conta a possibilidade de adaptações oferecidas pelo Instituto geral do
Missal romano, pelos critérios fixados pela IV Instrução da Congregação para o
culto divino para uma justa aplicação das constituições conciliares sobre a
liturgia de 1994, e pelas diretrizes expressas nas Exortações pós-sinodais
Ecclesia in Africa, Ecclesia in Asia, Ecclesia in Oceania, Ecclesia in América.
Com este motivo, as Conferências episcopais assumam plena responsabilidade em
incrementar as tentativas de inculturação favorecendo o justo equilíbrio entre
critérios e diretrizes já emitidos e novas adaptações.

Proposição 27

A arte e serviço da celebração Eucarística
Na história da celebração da Santa Missa e da adoração eucarística reveste uma
função de grande importância a arte sacra em suas várias expressões a começar
pela arquitetura. Essa, de fato, transpõe o significado espiritual dos ritos da
Igreja de formas compreensíveis e concretas, que iluminam a mente, tocam o
coração e formam a vontade. Por outro lado, o estudo da história da arquitetura
litúrgica e mais em geral da arte sacra, por parte dos leigos, dos seminaristas
e sobretudo pelos sacerdotes está em grau de iluminar a reflexão teológica,
enriquecer a catequese e despertar o gosto pela linguagem simbólica que
facilita a mistagogia sacramental. Por fim, um aprofundado conhecimento das
formas que a arte sacra soube produzir ao longo dos séculos pode ajudar aqueles
que são chamados a colaborar com os arquitetos e os artistas a planejar
adequadamente, a serviço da vida eucarística das comunidades de hoje, tanto os
espaços celebrativos quanto a programação iconográfica.
No caso dos conflitos entre aspecto artístico e celebrativo dá-se prioridade à
necessidade litúrgica da celebração, segundo a reforma aprovada pela Igreja.

Proposição 28

O sacrário e a sua colocação
Em conformidade com a Introdução Geral do Missal Romano (cf. n. 314), o Sínodo
recorda que o sacrário para a custódia do Santíssimo Sacramento deve ter na
Igreja uma colocação nobre, de respeito, bem visível, cuidada sob o perfil
artístico e adaptada à oração. Sob este ponte se consulte o Bispo.


Proposição 29

Eucaristia e meios de comunicação social
Os meios de comunicação, inclusive a internet, prestam um bom serviço àqueles
que não podem participar da Missa, por exemplo, por motivos de idade ou de
saúde. Podem, por outro lado, alcançar batizados que estão distanciados e até
mesmo descrentes. Quando se usam os meios de comunicação é importante celebrar
a Eucaristia em locais dignos, apropriados e bem preparados. Recorde-se que em
condições normais para complementar o preceito é necessária a presença física
na celebração da Eucaristia e que não basta acompanhar o rito através dos meios
de comunicação. A linguagem da imagem, de fato, é representação e não a
realidade em si mesma.
A liturgia deve ser devota e convidar à oração, porque celebra o mistério
pascal. Observem sempre as normas litúrgicas da Igreja, valorizem-se os sacros
sinais, preste-se atenção à expressão artística do espaço, dos objetos e das
vestes litúrgicas. Faça-se de modo que o canto e a música correspondam ao
mistério celebrado e ao tempo litúrgico.

Actuosa participatio

Proposição 30

Dies Domini
Como fruto do ano da Eucaristia, o Sínodo recomenda vivamente que se façam
esforços significativos para valorizar e viver o Dies Domini por toda a Igreja.
É necessário reafirmar a centralidade do Domingo e da celebração da Eucaristia
dominical nas diversas comunidades da diocese, em particular nas paróquias (cf.
SC 42). O Domingo é verdadeiramente dia no qual se celebra com os demais o
Cristo ressuscitado, dia santificado e consagrado ao Criador, dia de repouso e
de disponibilidade. A celebração eucarística dominical é uma graça humanizadora
para o indivíduo e a família, porque nutre a identidade cristã ao contato com o
Ressuscitado. Por isso, o dever de participar é tríplice: com relação a Deus, a
si mesmo e à comunidade.
Propõe-se ajudar os fiéis a considerar como paradigmática a experiência da
comunidade primitiva e aquela das gerações dos primeiros séculos. Aos cristãos
seja dada a oportunidade, através da catequese e da pregação, de meditar sobre
Dies Christi como dia da ressurreição do Senhor e, justamente por isso, como
festa de libertação, dia dado para desfrutar dos bens do Reino de Deus, dia de
alegria pelo encontro com o Vivente presente entre nós. Nós desejamos,
portanto, que o Dia do Senhor torne-se também o dia dos cristãos, respeitado
pela sociedade inteira com o repouso do trabalho. Que em torno da celebração
eucarística do domingo sejam organizadas manifestações próprias da comunidade
cristã, como encontros amistosos, formação da fé para crianças, jovens e
adultos, peregrinações, obras de caridade e momentos diversos de oração.
Ainda que o sábado seja pertencente já ao Domingo (Primeiras Vésperas) e seja
permitido cumprir o preceito dominical com a Missa pré-festiva, é necessário
recordar que é o dia do Domingo em si mesmo que merece ser santificado para que
não haja “vazio de Deus”.


Proposição 31



A Palavra de Deus na oração cristã
A celebração eucarística é a celebração central da Igreja, mas, para a vida
espiritual de uma comunidade, são de grande importância também as celebrações
da Palavra de Deus.
Tais celebrações oferecem à comunidade a possibilidade de aprofundar a Palavra
de Deus. Podem ser também utilizadas aquelas formas de acesso à Palavra de Deus
que são consideradas válidas na experiência catequética e pastoral, como o
diálogo, o silêncio ou outros elementos criativos como os gestos e a música.
Por outro lado, devemos recomendar à comunidade as formas confirmadas da
tradição, da Liturgia das Horas, sobretudo as Laudes, as Vésperas, as Completas
e também as celebrações de vigílias. As introduções aos Salmos e às leituras do
Ofício podem conduzir a uma profunda experiência de avivamento de Cristo e da
economia da salvação, que por sua vez pode enriquecer a compreensão do mistério
eucarístico.
Decisivo será que quem guia tais celebrações não tenha somente uma boa formação
teológica, mas, a partir da própria experiência espiritual possa também
conduzir ao coração da Palavra de Deus.


Proposição 32

A celebração Eucarística nos pequenos grupos
A propósito das Santas Missas celebradas para pequenos grupos, essas devem
favorecer uma participação mais consciente, ativa e frutuosa na Eucaristia.
Foram propostos os seguintes critérios:

– os pequenos grupos devem servir para unificar a comunidade paroquial, não a
fragmentá-la;

– devem respeitar as exigências das várias categorias de fiéis, assim para
favorecer a participação frutuosa da assembléia inteira;

– devem ser guiados por diretivas claras e precisas;

– devem ter presente que, na medida do possível, necessita preservar a unidade
da família.

Proposição 33

O presbítero e os ministérios litúrgicos
Deve ser dada maior clareza no que se refere aos deveres do sacerdote de dos
outros ministérios litúrgicos.
O sujeito verdadeiro que opera na liturgia é o Cristo ressuscitado e
glorificado no Espírito Santo. Cristo, porém, inclui a Igreja em seu agir e na
sua dedicação. O sacerdote é de modo insubstituível aquele que preside toda a
celebração eucarística; ele, por força de sua ordenação, representa Jesus
Cristo, cabeça da Igreja, e de seu modo próprio também a Igreja mesma. O diácono,
educando os fiéis na escuta da Palavra de Deus, ao louvor e à oração, pode
inculcar o amor pela Eucaristia.
A colaboração dos leigos no serviço litúrgico e, especialmente, na celebração
da Eucaristia, sempre existiu. Com o Concílio Vaticano II (cf. AA 24) e a
conseguinte reforma litúrgica, foi ulteriormente solicitada (cf. IGMR
25.1.2004, nn. 103-107). Nestes ministérios se respeita a Igreja como unidade
na pluriformalidade e se exprime também de maneira representativa uma forma
própria da «actuosa participatio» dos fiéis. Estes ministérios devem ser
introduzidos segundo o seu específico mandato e segundo as reais exigências da
comunidade que celebra. As pessoas encarregadas destes serviços litúrgicos
laicais devem ser escolhidas cuidadosamente, bem preparadas e acompanhadas com
uma formação permanente. Sua nomeação deve ser em tempo. Estas pessoas
devem ser conhecidas pela comunidade e devem receber dessa também um grato
reconhecimento. Normas e ordenamentos litúrgicos servem a uma clara orientação
à economia da salvação, à «communio» e à unidade da Igreja.

Proposição 34

Reverência para a Santa Eucaristia
Em frente à Hóstia consagrada observe-se a prática da genuflexão ou de outros
gestos de adoração segundo as diferentes culturas. Recomenda-se a importância
de ajoelhar-se durante os momentos importantes da Oração eucarística, em
sentido de adoração de louvor ao Senhor presente na Eucaristia. Promova-se, por
outro lado, a ação de graças depois da Comunhão, também com um tempo de
silêncio.


Proposição 35

A recepção da Santa Comunhão
Em nossa sociedade pluralista e multicultural, convém que o significado da
Santa Comunhão seja esclarecido também aos não batizados ou aos outros não
pertencentes à Igreja e comunidades não católicas, que estejam presentes na
Santa Missa por ocasião, por exemplo, de Batizados, Confirmações, Primeiras
Comunhões, Matrimônios, Funerais. Em muitas metrópoles e cidades, sobretudo
artísticas, visitantes de outras religiões e confissões e não crentes estão
presentes não raramente na Eucaristia. A estes igualmente deve ser explicado de
maneira delicada, mas clara, que a não admissão à Santa Comunhão não significa
uma falta de estima em sua confrontação. Também aos fiéis católicos que,
permanentemente ou ocasionalmente, não cumprem os necessários requisitos, devem
ficar cientes de que a celebração da Santa Missa, ainda que sem a participação
pessoal na Comunhão sacramental, permanece válida e significativa. Ninguém deve
temer suscitar uma impressão negativa com seu não aproximar-se à Comunhão. Em
tais situações é recomendável uma celebração da Palavra de Deus no lugar da
Santa Missa. Aos pastores de almas fica no coração a vontade de conduzir o
maior número possível de homens a Cristo, o qual chama todos a Si –e não
somente na Santa Comunhão– a fim de que esses tenham a vida eterna.

Proposição 36

O uso do latim nas celebrações litúrgicas
Nas celebrações da Eucaristia durante os encontros internacionais, hoje sempre
mais freqüentes, para melhor exprimir a unidade e a universalidade da Igreja,
propõe-se:

– sugerir que a (con)celebração da Santa Missa seja em latim (exceto as
leituras, a homilia e a oração dos fiéis). Assim somente sejam recitadas em
latim as orações da tradição da Igreja e eventualmente execuções de trechos do
canto gregoriano;

– recomendar que os sacerdotes, desde o Seminário, sejam preparados a
compreender e celebrar a Santa Missa em latim, mais para utilizar orações
latinas e saber valorizar o canto gregoriano;

– não negligenciar a possibilidade que os próprios fiéis sejam educados neste
sentido.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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