Antropologia e Generalidades – EB – Parte 1

Escatologia
Módulo 1
O estudo dos últimos acontecimentos que afetam o individuo e o gênero humano, deve comegar por uma apresentagio do que é o homem, sujeito de tais acontecimentos.
Lição 1: Oue é o homem?
1. O ser humano é composto de corpo material e alma espiritual, Há quem pergunte: qual a diferenga entre alma e espírito?
Responderemos que o espirito é um ser dotado de inteligência a vontade, mas sem corpo, sem dimensões materiais, sem forma, sem tamanho.  Hi três tipos de espirito, como so pode ver abaixo:
não criado: Deus
Espírito                       para existir sem corpo: o anjo (bom ou mal)
criado
para se aperfeiçoar no corpo: alma humana
São Paulo, em 1Ts 5,23, parece distinguir três componentes (espirito, alma e corpo) no ser humano. –
Na verdade, porém, o Apóstolo não intencionou ensinar antropologia, mas aludiu ao ser humano, usando uma das maneiras de falar de sua época.  De resto, a palavra “espirito” (pneuma) nos escritos paulinos tem mais de um sentido, podendo designar o Espirito Santo (cf.  Rm 5,5) como também a vida da graça no cristão (cf. 1 Cor 2,14s).
O corpo é mortal, pois consta de elementos materiais, que, com o tempo, se vai desgastando.
A alma humana, sendo espiritual, é imortal por si mesma; sendo simples, ela não se decompõe.  Pode, sem dúvida, ser aniquilada por Deus, que a criou a partir do nada.  Sabe-se, porém, que Deus não destroy as criaturas que Ele fez corn muito amor.
Em cada ser humano há uma só alma (espiritual), que é responsivel por todas as funções – vegetativas, sensitivas e intelectivas – dessa pessoa.  Não há duas ou três almas no mesmo indíviduo.
Corpo e alma, embora sejam distintos um do outro, são complementares entre si; formam um só todo psicossomitico.  Nenhuma atividade do homem é meramente psiquica ou meramente somcitica.  Embora a alma seja espiritual a imortal por si mesma, ela precisa do corpo para desenvolver suas potencialidades.  Uma vez separada do corpo após a morte, ela usufrui dos valores adquiridos enquanto unida ao corpo.
2. A doutrina assim apresentada nada tem que ver corn dualismo.  Este implica antagonisms entre partes opostas.  Ocorre nas teorias maniqu6ia, 6rf ica, pitag6rica e no hinduismo, que tem a matéria como algo de intrinsecamente mau e o espírito como algo de bom por sua natureza mesma.  A doutrina cristã rejeita o dualismo, pois afirma que a matéria é, como o espirito, criatura de Deus e, por conseguinte, ontologicamente boa.  Mas nem por isso a doutrina cristã cai no monismo, que identifica entre si matéria e espírito. – Entre dualismo e monismo situa-se a dualidade; esta professa a distinção de espírito e matéria, mas não os julga antiéticos entre si, e, sim, complementares.  Analogamente homem e mulher sfio criaturas distintas uma da outra, mas não antagônicas, e, sim, feitas para se complementar mutuamente.
Recapitulando esquematicamente:
Dualismo:         dois princípios opostos entre si por sua própria natureza ou no plano ontológico;
Dualidade:        dois princípios distintos, mas não opostos entre si, é, sim, complementares;
Monismo: uma só realidade corn facetas diversas.
Ora corpo e alma formam uma dualidade, não dualismo nem monismo.  Adualidade de corpo a alma é afirmada em Mt 10,28: “Não temais os qua matam o corpo, mas não podem matar a alma.  Temei, antes, aquele qua pode destruir a alma e o corpo na geena”.
Frentes a recentes concepções monistas, a Igreja se pronunciou.
Lição 2: A palavra oficial da lgreja
Aos 17/05/1979 foi promulgada uma Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, qua incute a distinção entre corpo a alma.  Eis as suas afirmações principais:
 
‘Esta Sagrada Congregação, qua tem a responsabilidade de promover a defender a doutrina da fé, propõe  hoje recordar aquilo qua a Igreja ensina, O nome de Cristo, especialmente quanto ao qua sobrevivem entre a morte do cristão a a ressurreição universal:
1) A Igreja crê numa ressurreição dos mortos (cf. Símbolo dos Apóstolos).
2) A Igreja antende esta ressurreição referida ao homem todo; esta, para os eleitos,
Não é outra coisa senão a extensão aos homens, da própria ressurreição de Cristo.
3) A Igreja afirma a sobrevivência a a subsistência, depois da morte, de um alemento espiritual, dotado de consciência a de vontade de tal modo que o eu humano subsista, ainda qua sem corpo. Para designar esse elemento, a lgreja amprega a palavra alma, consagrada pelo uso qua dela fazem a S. Escritura a a Tradição. Sam ignorar qua este termo é tornado na Biblia am diversos sentidos, Ela julga, não obstante, qua não existe qualquer razão seria para o rejeitar a considerar mesmo ser absolutamente indisponível um instrumento verbal para sustentar a fé dos cristãos.
 
4) A Igreja exclui todas as formas de pensamento a de expressão qua, se adotadas, tomariam absurdas ou ininteligiveis a sua oração, os seus ritos fúnebres ao seu culto dos mortos, realidades que, na sua substância, constituem lugares teológicos.
5) A lgreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera a gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf.  Constituigio Dei Verbum 14), qua Ela considera como distinta a diferida am relação aquela condição própria do homem imediatamente após a morte.
6) A lgreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tire o sentido i Assunção de Nossa Senhora naquilo qua ela tem de tinico, ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação qua está destinada a todos os outros eleitos.
7) A lgreja, am adesão fiel ao Novo Testamento com a Tradição, acredita na felicidade dos justos que estarão um dia com Cristo. Ao mesmo tempo Ela crê numa pena qua há de castigar para sempre o pecador qua for privado da visão de Deus, a ainda na reparcussão dessa pena em todo o ser do mesmo pecador.  E, por fim, Ela crê existir para os eleitos uma eventual purificação prévia e visão de Deus, a qual no entanto é absolutamente diversa da pena dos condenados. É isto qua a lgreja entende quando Ela fala de infemo a de purgatório.
Nesta Declaração chamam-nos a atenção especialmente
– o item 3: afirma a separação de corpo e alma na morte e a subsistência, sem corpo, da alma humana, elemento espiritual, dotado de inteligência e vontade (núcleo da personalidade);
 
– os itens 5 e 6: ensinam que não coincidem entre si a hora da morte de cada individuo e a parusia ou manifestação final de Jesus Cristo.  Se alguém morrer em 1993, não creia que assistirá imediatamente ao fim do mundo, alegando que, após a morte não há futuro nem passado.  A ausência de futuro e passado ou o regime da eternidade é de Deus só.  A criatura que deixa este mundo, emancipa-se do tempo, mas não passa a viver o regime da eternidade; a sua duração será medida pelo EVO ou por uma sucessão de atos psicológicos, como se dirá no Módulo 32 deste Curso (onde se encontra, de novo, transcrito o texto da Congregação para a Doutrina da Fé).
Lição 3: Observações de ordem geral
Antes de entrarmos nas diversas unidades do tratado dos Novíssimos, importa-nos tecer algumas considerações de ordem geral:
3.1. A ênfase modifica-se
Nota-se que os antigos cristgos voltavam sua atengio especialmente para a consumag.io do universo ou o fim do mundo.  Esperavam para breve a segunda vinda de Cristo e o juizo final. É o que se depreende das epístolas de São Paulo, onde se Iê:
“Quando o Senhor, ao sinal dado, a voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, nós, os vivos, que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor nos ares’ (1 Ts 4,1 6s).
Este texto, corn suas imagens, exprime a esperança que S. Paulo alimentava, de ainda estar vivo quando Cristo voltasse no fim dos tempos.
Os antigos cristãos ansiavam por esse evento final, rezando: “Marana tha!  Senhor, vem!” (cf.  I Cor 16,22; Ap 22,20).
Vejam-se ainda os seguintes textos:
“O fim de todas as coisas está próximo.  Levai, pois, uma vida de autodominio e de sobriedade, dedicada a oração’ (I Pd 4,7).
“Esperai com paciência e fortalecei o vosso coração, porque a vinda do Senhor está próxima’ (Tg 5,8).
Todavia, já que os decênios se passavam e o fim da história não ocorria, foi-se deslocando a atenção da consumação do mundo para a consumação de cada indíviduo.  Corn outras palavras: foi prevalecendo o interesse pela morte pessoal como encontro corn o Senhor.  Mais e mais foi-se empalidecendo a expectativa da próxima vinda de Cristo como Juiz Universal.  A piedade medieval deixou-nos vários escritos sobre a morte e os acontecimentos finais concernentes ao ser humano individual; a meditação sobre os mesmos incitava os fiéis a uma vida santa e fervorosa.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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