Aids: a pessoa no centro do tratamento

Dom Zimowski: “Doença social e moral”

ROMA, quarta-feira, 1º de junho de 2011 (ZENIT.org) – Mais solidariedade dos países ricos com os mais pobres e sem acesso aos medicamentos; responsabilidade de cada um nas relações sexuais e mais aproximação dos doentes que vivem a vergonha do estigma.

Este foi o pedido de pesquisadores, médicos e representantes eclesiais que se reuniram em Roma, em 27 e 28 de maio, para debater sobre o HIV, sua difusão no mundo e as vias de combate adotadas nos cinco continentes.

São 60 milhões de contagiados pelo vírus nos últimos trinta anos, mais de 30 milhões de mortos pela doença no mesmo período, e 2,6 milhões de infectados em 2009, com 1,8 milhões de falecidos.

Estes números são sinais de uma emergência que a Igreja continua ajudando a resolver, através de 117.000 estruturas de saúde que compreendem desde o pequeno posto médico na selva até o hospital policlínico de vanguarda na cidade grande.

“Mas seria ridículo ficarmos só no aspecto numérico, mesmo ele sendo importante”, explica na conferência o cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado vaticano. “Uma parte essencial da contribuição da Igreja está na construção daquele capital invisível. Sem ele, não haveria eficácia duradoura nem nas melhores redes de assistência sanitária”.

Bertone se refere à importância da educação, dada pela Igreja católica, para superar os preconceitos contra os contagiados pelo vírus, que são “pessoas dotadas de uma dignidade inalienável”.

“A infecção do HIV”, disse Dom Zygmunt Zimowski, do Conselho Pontifício para os Agentes Sanitários, não pode ser reduzida só a uma patologia somática imunitária, que tem que ser tratada com antirretrovirais. “É uma doença social e moral, que exige um tratamento em todos os níveis”.

“A aids revela uma desordem profunda, antropológica e moral, que tem a ver não só com o comportamento sexual da pessoa que transmite o vírus”, afirmou Zimowski, “mas com o tipo de relações interpessoais envolvidas na difusão da epidemia”. Um comportamento, como o das pessoas que transmitem a infecção, caracterizado pela “irresponsabilidade”.

“Enquanto essa desordem não receber atenção dos responsáveis contra a epidemia da aids”, recorda o presidente do dicastério vaticano, “a epidemia permanecerá na população”.

A prevenção da transmissão sexual do vírus “deve ser feita na perspectiva e no contexto de uma luta total e global, não limitada, portanto, ao também importante aspecto médico-sanitário”.

Da mesma opinião é Stefano Vella, diretor do departamento de Farmácia no Instituto Superior de Saúde: “O futuro está na integração dos tratamentos”, explica. “É necessário pensar na saúde em termos globais; a base tem que ser a vontade de combater a desigualdade dos tratamentos”. O responsável europeu para a Saúde e a Política dos Consumidores, John Dalli, observa que mais de 6 milhões de pessoas recebem hoje o tratamento com antirretrovirais para a infecção do HIV, mas a luta não está terminada.

“Há 10 milhões de pessoas esperando o tratamento”, reforça Michael Sidibè, secretário geral adjunto da ONU e diretor executivo da UnAids, “e a vida deles está por um fio”. É verdade que os contágios vêm caindo, mas “não é hora de relaxar, e, se estamos destruindo a trajetória da epidemia, é por causa de uma mudança na propagação da doença”, já que estão sendo focados “a melhora nas práticas sociais e o reforço dos valores e da família”.

Responsáveis por esta mudança são principalmente os jovens, capazes de “negociar a sua sexualidade responsavelmente”, e também a pesquisa científica e o investimento maior.

A mesa da conferência solicitou dos países industrializados um empenho renovado de solidariedade com os países cujas populações não conseguem ter acesso nem mesmo aos tratamentos básicos, necessários para salvar a vida, por falta de dinheiro e por causa da malária e da tuberculose como agravantes.

O cardeal Bertone lembrou um fragmento do telegrama que o beato João Paulo II enviou aos participantes da conferência “A Igreja católica e o desafio do HIV”, em 1999. Wojtyla, falando das vítimas da infecção, fez um chamamento “à generosidade fraterna de tantos homens e mulheres de boa vontade, movidos pelo exemplo do Bom Samaritano, a socorrer esses doentes com meios adequados, cuidando deles do modo mais humano possível”.

(Mariaelena Finessi)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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