A Virgindade Perpétua de Maria – Parte 2

» CAPÍTULO VII

A Palavra de
Deus diz em Gênesis: “Entregaram a Jacó todos os deuses estranhos que
tinham em suas mãos, e as argolas que penduravam em suas orelhas; e Jacó os escondeu
debaixo do carvalho que está junto a Siquém , e continuam perdidos até o dia de
hoje”. Igualmente lemos no final do Deuteronômio: “Assim, Moisés,
servo do Senhor, morreu ali na terra de Moab, conforme a palavra do Senhor. E
foi sepultado no vale, na terra de Moab, defronte de Beth-Peor; até o dia de
hoje ninguém sabe o lugar da sua sepultura”. Certamente devemos
identificar a expressão “até o dia de hoje” com o tempo da composição
da história, podendo vocês preferirem o ponto de vista que afirma que Moisés
foi o autor do Pentateuco ou que Esdras o reeditou. Não faço qualquer objeção
em ambos os casos. A questão agora é saber se as palavras “até o dia de
hoje” se referem à época da publicação ou composição desses livros e, caso
o sejam, por que [Helvídio] não mostra – agora que muitos e muitos anos se
passaram desde aquele dia – que os ídolos escondidos sob o carvalho ou a
sepultura de Moisés foram descobertos, já que ele sustenta, com demasiada
teimosia, que certa coisa não pode ocorrer dentro de um espaço de tempo
delimitado pela expressão “até que” mas, para que venha a ocorrer, é
necessário que atinja aquele ponto delimitado por “até que”?

Ele faria bem se
prestasse atenção ao idioma da Sagrada Escritura e compreendesse como nós – já
que se encontra mergulhado na lama; certas coisas parecem ambíguas quando não
claramente declaradas, emboras outras coisas sejam deixadas assim para
exercitar o nosso intelecto. Ora, se ainda quando o evento permanecia fresco na
memória daqueles homens que viram e conviveram com Moisés já se desconhecia o
local da sepultura, quanto mais agora depois que tantos anos se passaram!

E da mesma forma
devemos interpretar o que se conta a respeito de José. O Evangelista apontou
uma circunstância que poderia causar escândalo, ou seja, que Maria não foi
conhecida por seu marido até dar à luz, e ele (o Evangelista) agiu assim para
que tivéssemos a certeza de que ela – de quem José se absteve enquanto havia
lugar para dúvidas sobre a importância da visão – não foi conhecida depois de
seu parto.

» CAPÍTULO VIII

Em resumo: o que
eu gostaria de saber é por que José teria se privado [de Maria] até o dia de
ter ela dado à luz? Helvídio certamente responderia: “Porque ele ouviu o
que o anjo disse: ‘pois o que nela foi gerado provém do Espírito Santo'”.
Nós, então, responderíamos a seguir que [José] certamente ouviu o que o [anjo]
disse: “José, filho de Davi, não temas em tomar para ti Maria como tua
esposa”. A razão pela qual ele estava proibido de repudiar sua esposa era
porque não achava que ela fosse adúltera. Seria então verdade que o [anjo]
ordenara que não tivesse relações sexuais com sua esposa? Não está
suficientemente claro que a advertência feita foi para que não se separasse
dela? E poderia o homem justo pensar em se aproximar dela tendo ouvido que o
Filho de Deus estava em seu ventre? Ótimo! Vamos então acreditar que o mesmo
homem que deu tanto crédito a um sonho, não se atreveu a tocar em sua esposa,
mesmo depois, quando ele ouviu dos pastores que o anjo do Senhor desceu dos céus
e lhes disse: “Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que o
será também para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, o Cristo
Senhor”; e após, quando a multidão celeste se juntou ao anjo e entoaram: “Glória
a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”; e ainda
quando o justo Simeão abraçou a criancinha e exclamou: “Podeis levar agora
para ti este teu Servo, Senhor, pois os meus olhos viram a tua salvação,
conforme a tua palavra”; e também quando [José] viu a profetisa Ana, os
Magos, a Estrela [de Belém], Herodes, os anjos…

Eu diria então:
quer Helvídio nos fazer acreditar que José, muito bem inteirado de tamanhas
maravilhas, ousaria tocar o templo de Deus, a morada do Espírito Santo, a mãe
do seu Senhor? Maria mantinha todos esses eventos “guardados em seu
coração”. Vocês não podem cair na vergonha de dizer que José desconhecia
tudo isso, pois Lucas nos diz: “Seu pai e sua mãe ficavam maravilhados das
coisas que diziam a Seu respeito”.

E vocês ainda
afirmam, arrogantemente, que a leitura dos manuscritos gregos é corrupta,
embora seja exatamente isso que todos os escritores gregos fizeram constar em
seus livros, e não apenas eles, mas também muitos escritores latinos
interpretaram as palavras da mesma forma… E nem precisaremos considerar as
variações existentes nas cópias, pois todos os registros existentes, tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento, se encontram assim desde que foram traduzidos
para o Latim; portanto, devemos crer que a água da fonte brota mais pura que a
[água] do rio.

Parte III
Os “irmãos” do Senhor eram primos (parentes); não irmãos de fato

» CAPÍTULO IX

Helvídio poderá
responder: “O que você diz é, na minha opinião, insignificante. Seus
argumentos foram perdidos no tempo e esta discussão demonstra mais astúcia do
que verdade. Por que a Escritura não diria como diz de Tamar e Judá: ‘E ele a
tomou como sua esposa e jamais a conheceu’? Porque Mateus não usou estas
palavras se quisesse mesmo expressar esse significado? Ele diz claramente: ‘e
não a conheceu até que deu à luz a um filho’. Logo, após o parto, certamente a
conheceu, pois se privou dela até o momento do parto”.

» CAPÍTULO X

Se vocês são tão
contenciosos, deveriam com suas próprias idéias testar o vosso mestre. Vocês
não devem permitir que se faça uma separação entre o parto e o intercurso
(sexual). Não devem dizer: “Se uma mulher conceber e tiver um menino, será
imunda sete dias; assim como nos dias da impureza de suas regras, será imunda.
No oitavo dia, circundar-se-á o prepúcio do menino e, durante trinta e três
dias, ela ficará ainda purificando-se do seu sangue e não tocará em qualquer
coisa sagrada” e outras coisas semelhantes. Devem recordar que se José se
aproximasse dela, estaria sujeito à reprovação de Jeremias: “São como
cavalos de lançamento bem nutridos, que andam relinchando cada um à mulher do
seu próximo”.

De outra
maneira, como se explicariam as palavras “e não a conheceu até que deu à
luz a um filho”, se ele ainda deveria aguardar o término do tempo de
purificação, pois senão o seu desejo acabaria por sofrer com um período ainda
mais longo, de 40 dias? A mãe precisava se purificar da mácula de seu filho
recém-nascido de modo que este ficava sob os cuidados da parteira, enquanto o marido
apoiava sua esposa enfraquecida. Portanto, é certo que [José e Maria] se
casaram, já que o Evangelista não pode ser acusado de ter mentido. Mas Deus nos
livre de pensarmos tais coisas a respeito da mãe do Salvador e de um homem
justo! Nenhuma parteira assistiu ao nascimento de Jesus; nenhuma mulher se
intrometeu ali. Com suas próprias mãos [Maria] envolveu o Menino em pedaços de
pano; ela mesma foi mãe e parteira, e, como nos é relatado, “O colocou
numa manjedoura, pois não havia nenhum quarto para eles na pousada”; eis a
declaração [canônica] que refuta as estórias apócrifas, pois foi Maria mesma
que o envolveu em pedaços de pano e o que se sucederia a partir daí torna
impossível a maliciosa idéia de Helvídio, uma vez que não havia um local
adequado para o ato sexual naquela pousada.

» CAPÍTULO XI

Darei agora uma
resposta mais ampla a respeito das palavras “antes que coabitassem” e
“não a conheceu até que deu à luz a um filho”. Mas devo observar
primeiro que a minha resposta segue a ordem do argumento dele até o terceiro
ponto, pois ele dirá que Maria teve outros filhos quando cita a passagem: “E
José se dirigiu até a cidade de Davi, para se inscrever com Maria, sua noiva,
que estava grávida. Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto e
ela deu à luz ao seu filho primogênito”. Esforça-se, assim, para provar
que o termo “primogênito” só pode ser aplicado a uma pessoa que teve
outros irmãos e que, no caso, seriam filhos de seus pais.

» CAPÍTULO XII

Nossa posição é
esta: todo filho único é primogênito mas nem todo primogênito é filho único.
Por primogênito entendemos não apenas aquele que pode ser sucedido por outros,
mas aquele que não teve predecessor. Assim diz o Senhor a Abraão: “Todo
aquele que abrir o útero, de toda a carne, será oferecido ao Senhor; tanto de
homens como de animais, será teu. Contudo, os primogênitos dos homens deverão
ser resgatados; também os primogênitos dos animais impuros resgatarás”.

A palavra de
Deus define “primogênito” como todo aquele que abriu o útero. Ora, se
o título pertence apenas àqueles que têm irmãos mais jovens, então os
sacerdotes não poderiam reivindicar o primogênito até que outros sucessores
nascessem, pois, caso contrário, isto é, se não houvesse outros partos, seria
necessário provar o estado de primogênito e não simplesmente o de filho único.

“E aqueles
que devem ser resgatados com um mês de idade, devem ser resgatados , de acordo
com tua estimativa por cinco siclos [de moedas], além do siclo do santuário.
Mas o primogênito de um boi ou de uma ovelha ou de uma cabra, não deverás
resgatar; eles são sagrados”. A palavra de Deus me compele a dedicar a
Deus o que quer que abra o útero se for o primogênito de animais puros; se de
animais impuros, devo resgatá-lo, dando o valor devido ao sacerdote.

Poderia
replicar: Por que me sujeitais ao curto espaço de um mês? Por que falais do
primogênito, quando não posso dizer que há irmãos que irão nascer? Esperai até
que nasça o segundo filho.

Não explico nada
ao sacerdote, como se apenas o nascimento do segundo desse ao primeiro que tive
a condição de primogênito. Não deveria, ao pé da letra, chamar-me e
convencer-me de louco, se em vez de declarar que primogênito é um título devido
àquele que rompe o útero, pretendesse restringir essa condição àqueles que após
terão irmãos? Então, tomando o caso de João: estamos de acordo que ele foi
filho único; eu precisaria saber se ele não foi também filho primogênito, e se
não foi absolutamente sujeito à lei. Não há dúvidas quanto a isso.

À toda hora a
Escritura assim fala do Salvador: “E quando chegou o dia de sua
purificação, de acordo com a lei de Moisés, eles o levaram a Jerusalém para
apresentá-lo ao Senhor [como está prescrito na lei do Senhor, todo macho que
abre o útero deve ser consagrado ao Senhor] e para oferecer em sacrifício de
acordo com o que é prescrito na lei do Senhor, um par de rolinhas ou duas
pombas novas”. Se esta lei se refere somente aos primogênitos, e esses
deveriam ser os primogênitos com irmãos sucessores, ninguém seria obrigado pela
lei se não pudesse afirmar que houve sucessores. Mas visto que, como aquele que
não tem irmãos mais novos, é sujeito à lei do primogênito, deduzimos que é
chamado primogênito aquele que abre o útero da mãe e que não foi precedido por
ninguém, e não aquele cujo nascimento foi seguido por outro de irmão mais novo.

Moisés escreve
no Êxodo: “E acontecerá ao passar da meia-noite que o Senhor ferirá todos
os primogênitos das terras do Egito, desde o primogênito do Faraó que reina em
seu trono até os primogênitos dos cativos que estiverem nas prisões; e todos os
primogênitos do acampamento”. Diga-me: eram os que pereceram pelas mãos do
Exterminador somente seus primogênitos, ou alguém mais, ou seja, os filhos
únicos? Se somente aqueles que tinham irmãos eram chamados primogênitos,
somente os filhos únicos escaparam da morte. E se, de fato, os filhos únicos
foram trucidados, isso se opõe à sentença pronunciada, porque nascidos para
morrer eram somente os primogênitos. Você deverá ou livrar os filhos únicos da
pena, e nesse caso, se tornará ridículo; ou, se concorda que eles foram mortos,
ganhamos a questão, embora não tenhamos de lhe agradecer isso, porque os filhos
únicos eram também primogênitos.

» CAPÍTULO XIII

A última
proposição de Helvídio era esta, e era o que ele queria demonstrar quando
tratou dos primogênitos, afirmando que são citados nos Evangelhos os irmãos de
Jesus. Por exemplo: “Ora, sua mãe e seus irmãos permaneciam procurando
falar com Ele”. E em outro lugar: “Depois disso Ele foi para
Cafarnaum, com sua mãe e seus irmãos”. E de novo: “Seus irmãos então
lhe disseram: ‘Parte daqui e vai para a Judéia, porque teus discípulos podem
também testemunhar as obras que fazes. Porque ninguém faz nada em segredo, mas
procura ser conhecido abertamente. Se realizas tais coisas, manifesta-te ao
mundo”. E João acrescenta: “Porque mesmo seus irmãos não acreditavam
nele”.

Também Marcos e
Mateus: “E indo à sua própria terra, ensinava em suas sinagogas, tanto que
[sua gente] ficava atônita e dizia: ‘De onde tirou este homem tal sabedoria e
miraculosas obras? Não é o filho do carpinteiro. Não é sua mãe chamada Maria e
seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco?'”.
Lucas, também, nos Atos dos Apóstolos relata: “Todos aqueles com um só
propósito continuaram firmes na oração, com as mulheres e Maria, a mãe de
Jesus, e com seus irmãos”.

Paulo, o
Apóstolo, também uma vez esteve com eles, e testemunha sua precisão histórica: “E
cresci pela revelação, mas não vi os outros apóstolos, a não ser Pedro e Tiago,
o irmão do Senhor”. E de novo, em outro lugar: “Não temos o direito
de comer e beber? Não temos o direito de trabalhar com as viúvas, assim como o
resto dos Apóstolos, os irmãos do Senhor e Pedro?”

E, por medo,
ninguém aceitou o testemunho dos judeus, pois foi de sua boca que ouvimos o
nome de Seus irmãos, mas mantivemos que seus conterrâneos ficaram decepcionados
com esse mesmo erro a respeito dos irmãos pelo qual [os judeus] passaram a
acreditar sobre o pai, Helvídio profere uma dura observação de advertência e
grita: “Os mesmos nomes estão repetidos pelos Evangelistas em outro lugar
e as mesmas pessoas são ali irmãos do Senhor e filhos de Maria”.

Mateus diz: “E
muitas mulheres estavam ali (sem dúvida ao pé da cruz do Senhor), observando de
alguma distância, e elas tinham seguido Jesus desde a Galiléia, ajudando-o,
entre as quais estava Maria Madalena, Maria a mãe de Tiago menor e de José, e
Salomé”; e no mesmo lugar, logo depois: “E muitas outras mulheres que
subiram com Ele a Jerusalém”.

Lucas também
diz: “Ali estavam Maria Madalena e Joana, e Maria, a mãe de Tiago, e as
outras mulheres com elas”.

» CAPÍTULO XIV

Minha razão para
repetir sempre a mesma coisa é para adverti-lo para não fazer uma falsa
afirmação, divulgando que eu deixei de lado tais passagens, como propícias a
você, e que essa interpretação foi desfigurada e desfeita não pela evidência da
Escritura, mas por argumentos evasivos.

“Observe:”
– diz ele – “Tiago e José são filhos de Maria, e são as mesmas pessoas que
são chamadas irmãos pelos judeus. Note que Maria é a mãe de Tiago o menor e de
José. E Tiago é chamado o menor para distingui-lo de Tiago o maior que era
filho de Zebedeu, como Marcos afirma em outro lugar; E Maria Madalena e Maria a
mãe de José estavam onde ele (=Jesus) fora colocado. E quando passou o Sábado,
elas compraram essências para irem ungi-lo”. E, como era de se esperar,
ele diz: “Quão pobre e ímpia visão temos de Maria, se afirmamos que quando
outras mulheres estavam ocupadas com o sepultamento de Jesus, ela, Sua mãe, estava
ausente; ou se inventamos alguma outra Maria; e tudo o mais porque o Evangelho
de São João testemunha que ela estava ali presente, quando o Senhor, do alto da
cruz a recomendou como Sua mãe, agora uma viúva, aos cuidados de João. Ou
deveríamos supor que o Evangelista caiu em tamanho erro e nos induziu a tamanho
erro, chamando Maria a mãe daqueles que eram conhecidos dos judeus como irmãos
de Jesus?”

» CAPÍTULO XV

Que cegueira,
que raivosa loucura o leva à sua própria destruição! Você (Helvídio) diz que a
mãe do Senhor estava presente ao pé da cruz; diz que ela foi confiada ao
discípulo João por causa de sua viuvez e condição de soledade, como se no ponto
de vista de sua própria afirmação, ela não tivesse quatro filhos e numerosas
irmãs, com o conforto dos quais ela poderia se apoiar? Você também lhe dá o
nome de viúva, que não se encontra na Escritura. E embora cite, a cada momento,
o Evangelho, somente as palavras de João lhe desagradam. Você diz, de passagem,
que ela estava presente ao pé da cruz porque parece que você não a omitiu de
propósito, e contudo [não diz] nenhuma palavra sobre as mulheres que estavam
com ela. Poderia perdoá-lo se fosse ignorante, mas vejo que você tem uma razão
para suas omissões.

Deixe-me
destacar então o que João disse: “Mas estavam de pé junto à cruz de Jesus
sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, a esposa de Cléofas, e Maria Madalena”.

Não há nenhuma
dúvida que existiam dois apóstolos chamados pelos nomes de Tiago: Tiago, o
filho de Zebedeu, e Tiago, o filho de Alfeu. Por acaso você tem em vista que o
comparativamente desconhecido Tiago o menor, que é chamado nas Escrituras filho
de Maria, não contudo de Maria a mãe do Nosso Senhor, era apóstolo ou não ? Se
era um apóstolo, devia ser o filho de Alfeu e um crente em Jesus, “porque
nem seus irmãos acreditavam n’Ele”. Se não era um apóstolo mas um terceiro
Tiago (que possa ser, não sei), como poderia ser tido como o irmão do Senhor, e
como, sendo um terceiro, poderia ser chamado “menor” para ser
destinguido do “maior” , porquanto maior e menor são usados para
mostrar relação existente não entre três, mas entre dois? Observe, ainda mais,
que o irmão do Senhor é um apóstolo, uma vez que Paulo diz: “Então depois
de três dias eu fui a Jerusalém para visitar Pedro e fiquei com ele quinze
dias. Mas não vi nenhum outro dos apóstolos, a não ser Tiago, irmão do
Senhor”. E na mesma Epístola: “E quando eles perceberam a graça que
me foi concedida, Tiago, Pedro e João que eram considerados os pilares”
etc.

E você não
poderá supor que esse Tiago fosse o filho de Zebedeu, bastando para isso ler os
Atos dos Apóstolos, onde você encontrará que esse último já tinha sido
trucidado por Herodes. A única conclusão é que a Maria que é descrita como a
mãe de Tiago o menor era a esposa de Alfeu e irmã de Maria, a mãe do Senhor,
aquela que é chamada por João Evangelista “Maria de Cléofas”, seja
por filiação, seja por parentesco, seja por outra razão.

Mas se você
julga que são duas pessoas porque em outro lugar lemos: “Maria a mãe de
Tiago menor” e aqui: “Maria de Cléofas”, você terá a aprender
ainda que era costume na Escritura dar diferentes nomes ao mesmo indivíduo.
Raguel, sogro de Moisés, é chamado também de Jetro. Gedeão, sem nenhuma outra
razão aparente para a troca, de repente se torna Jerubbaal. Ozias, rei de Judá,
tem, como nome alternativo, Azarias. O Monte Tabor é chamado Itabyrium.
Igualmente, o Hermon é chamado pelos fenícios Sanior, e pelos amorreus Sanir. O
mesmo pedaço do país é conhecido por três nomes: Negebb, Teman e Darom, em Ezequiel. Pedro é
também chamado Simão e Cefas. Judas, o zelote, em outro Evangelho é
chamado Tadeu. Há numerosos outros exemplos que o leitor pode por si mesmo
colecionar, em toda a Escritura.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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