A Sagrada Comunhão (Parte 2)

corpo-de-cristoJá dissemos que a Comunhão é como que uma nova Encarnação de Jesus. E foi o Espírito Santo quem operou na Encarnação do Verbo em Maria, então, é Ele que deve também preparar a nossa alma para receber Jesus. Ele preparou Maria Santa e Imaculada para receber o Verbo; da mesma forma deve preparar a nossa alma para recebê-lo.

Devemos nos unir ao Espírito Santo que já está na alma em estado de graça, e Ele receberá Jesus. Nossa disposição deve ser a de Maria: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a nossa palavra”; o Espírito Santo saberá receber Jesus com dignidade em nós.

Além do Espírito Santo preparar a alma e o corpo de Maria para receber o Verbo divino, Ele também o gerou no seu seio. Ele fará o mesmo em nossas Comunhões: não só preparará a nossa alma, mas nos transformará em Jesus, fazendo-nos um com Ele. E, da mesma forma que Ele fez Jesus sair do túmulo, ressuscitará nossos corpos para a glória. E quando as sagradas espécies se consomem, e Jesus deixa de estar em nós sacramentalmente, o Espírito Santo continua vivendo em nós, prolongando a vida divina de Jesus em nós.

Por vivermos no tempo da Eucaristia nós somos mais favorecidos que os Santos Patriarcas do povo de Deus. Então, precisamos cooperar com o Espírito Santo para formar Jesus em nós. Com Ele devemos nos unir para preparar a nossa alma para a Comunhão e para a Ação de Graças.

Na Comunhão, Jesus comunica-se mais intimamente a uma alma conforme o grau da sua pureza. “Bem-aventurados os puros, pois eles verão a Deus” (Mt 5, 8).  Então, não basta fugir do pecado mortal, é preciso mais, pois mesmo os pecados veniais podem ser obstáculos para Jesus operar em uma alma com poder. Jesus se compraz numa alma que busca a pureza, e a Comunhão entre eles é grande.

Note que Jesus não vem a nós segundo o grau das nossas virtudes ou boas obras, mas em função de nossa pureza; isto é muito bom para nós que nem sempre somos capazes de grandes feitos. Então, é importante investir na pureza da alma.

A veste nupcial daquela parábola das Bodas do Evangelho explica isto. Os que estavam sem as vestes nupciais, sinal da pureza, foram colocados para fora.

O primeiro anúncio da Eucaristia foi a Encarnação do Verbo. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).  O Verbo se fez carne e depois se fez pão. Pela Comunhão podemos participar da glória e da honra da Virgem Maria; portanto, a novidade da Comunhão deve ser para nós como o Anúncio do Anjo Gabriel a Maria.

Deus quis uma Mãe Virgem; previu o profeta Isaías: “Eis que uma Virgem conceberá…” (Is 7,14) e esperou muitos anos para esse Tabernáculo ser preparado. Uma virgem (Eva) foi a causa da perdição dos homens, fechou as portas do céu; outra Virgem (Maria) seria a causa da salvação.

Por isso a nossa alma deve ser também pura para receber a Comunhão.

É preciso ao menos dizer com profundidade: “Senhor, eu não sou digno de que entreis na minha morada …”. Isto agrada ao Senhor e o atrai a nós. É preciso acolher Jesus com a humildade de Maria e dizer-lhe: “Faça-se em mim segundo a sua vontade”.  Então, o que ocorreu em Maria, ocorrerá em nossa alma; a Eucaristia torna-se em nossa alma a extensão da Encarnação do Verbo.

No seio sagrado de Nossa Senhora o Verbo se uniu à natureza humana, pela Eucaristia une-se a cada homem que o acolhe, para que cada um possa participar dos Seus Méritos e da glória do Corpo que tomara em Maria.

Maria recebeu no seu seio o Corpo passível de Jesus,  e nós recebemos o seu corpo agora impassível e glorioso.  Ela trazia em si o Homem das Dores, nós recebemos o Filho coroado de glória. Ela o teve apenas nove meses em seu ventre, nós podemos recebê-lo todos os dias.

Ao formar Jesus em Maria, o Espírito Santo dotou-a dos seus ricos dons; cada vez que o Senhor vem a nós, vem também com todas as graças. Assim como vemos o Sol nascer novo a cada dia, podemos ver Jesus nascer a cada manhã na nossa alma com a mesma glória.

Se toda a glória de Maria foi ver o Verbo nela se fazer carne, para nós é vê-lo se fazer pão para nós.  O importante agora, é saber receber Jesus com o mesmo amor com que ela o recebeu.

Pela Comunhão eucarística acontece a mais profunda união entre nós e Jesus. Seu Sangue se torna o nosso sangue, Sua Alma se une à nossa, e Sua Carne se transforma em nossa carne, Seu Espírito Santo se une a nós.

A perfeição e a intensidade dessa união depende do “desejo” com que o recebemos. Sem esse desejo não há união. Saint Exupery tem uma bela frase para explicar isso: “Se tu vais chegar à tarde, desde a manhã eu já sou feliz”.  É assim que o coração deve ser preparado para receber o Mestre.

Essa união íntima e intensa de nossa alma com Jesus deve começar nesta vida terrena para permanecer para sempre na outra.

A Eucaristia deve ser para nós a alma da nossa piedade, o caminho das nossas virtudes e a força para os nossos combates e sacrifícios.

Quando Jesus vem a nós pela Eucaristia; traz consigo à nossa alma os frutos do Paraíso e seus méritos e põe à nossa disposição as suas armas. Recebemos o germe oculto da glória dos santos, o fermento da ressurreição. Recebemos a semente da felicidade eterna que durará para sempre.

Quanto mais a alma conseguir se desapegar das afeições da terra, tanto mais poderá gozar, já na terra, dessa felicidade celeste que nada pode destruir.

O homem que Comunga tem poder; não o poder terrestre, mas o poder de se libertar da pior das cadeias que é a do pecado, domina-se a si mesmo e vence as paixões.

O Papa Paulo VI na encíclica “Mysterium Fidei”, faz um belo resumo das graças obtidas na Comunhão:

“Quem não vê que a divina Eucaristia confere ao povo cristão dignidade incomparável? Cristo é verdadeiramente “Emmanuel”, isto é, “o Deus conosco”, não só durante a oferta do Sacrifício e realização do Sacramento, mas também depois, enquanto a Eucaristia se conserva em igrejas ou oratórios. Dia e noite, está no meio de nós, habita conosco, cheio de graça e de verdade: (Cf Jo 1,14.) morigera os costumes, alimenta as virtudes, consola os aflitos, fortifica os fracos; atrai à sua imitação quantos dele se abeiram, para que aprendam com o seu exemplo a ser mansos e humildes de coração, e a procurar não os seus interesses mas os de Deus. Todos os que dedicam particular devoção ao augusto Sacramento eucarístico e se esforçam por corresponder com prontidão e generosidade ao amor infinito de Cristo por nós, todos esses experimentam e se alegram de compreender quanto é útil e preciosa a vida oculta com Cristo em Deus (Cf. Col 3,3. ) e quanto importa que o homem se demore a falar com Cristo. Nada há mais suave na terra, nada mais eficaz para nos conduzir pelos caminhos da santidade” (M.F. 61).

A alma que comunga faz uma aliança de vida com Jesus, que jamais a romperá. Então, da nossa parte, é necessário fidelidade.

Nesta aliança, a alma perde o direito sobre si mesma e submete-se à Sua santa vontade e o segue por toda parte. É como aquela música que diz: “Amar somente a Ti Senhor; seguir somente a Ti Senhor… e não olhar atrás. Seguir teu caminhar Senhor, seguir sem vacilar Senhor…”

A alma que Comunga não é mais uma “serva” do Senhor, agora é  Esposa, senta-se à sua mesa, faz aliança com Ele. É Ele que nos quer dar essa honra, não é escolha nossa; então, a nós cabe simplesmente nele confiar. Não há aliança mais íntima e profunda. E quanto maior for o amor, mais íntima e mais profunda será.cpa_segredo_da_sagrada_eucaristia

“Alegremo-nos e exultemos, e rendamos, glória a Deus, pois são chegadas as núpcias do Cordeiro, e sua Esposa já se preparou”. (Ap 19, 7)

Essa Esposa, com quem Cristo quer se unir para sempre, por toda a eternidade, não é apenas a Santa Igreja (cf. Ef 5,25), mas é também a nossa alma. Essa descoberta deu aos santos o grande salto de santidade. Todos eles sentiam e viveram profundamente essa Aliança.

Devido à nossa fraqueza, e despreparo para firmar essa Aliança, o Senhor, então, vem todos os dias à alma para ensiná-la a vivê-la, tornando-a cada vez mais pura e mais íntima. E a perfeição dessa união depende de nós, porque da parte Dele se dá sem reservas.

Cabe à alma fazer o mesmo. “Desposar-vos-ei, para sempre”. Sejamos então Esposas fiéis que procedem com dignidade, já que fomos elevados ao trono da glória sem qualquer merecimento. Sejamos como a esposa do Cântico dos Cânticos que diz “Meu dileto é todo meu e eu todo dele” (Ct. 2, 16).

Quem não puder fazer a Comunhão de fato, por algum impedimento, poderá fazer a sua Comunhão espiritual. Desejai ardentemente unir-se a Jesus Cristo dizendo-lhe do desejo e da necessidade que tem de viver de sua Vida, desejando viver para Ele. E faça todas as orações que desejar como se tivesse comungado de fato. Os frutos dessa união espiritual com Jesus será grande se o desejo de possuí-lo na alma também o for.

Os santos falaram muito sobre a importância da Comunhão:

São João Crisóstomo, doutor da Igreja, disse:

“Deu-se todo não reservando nada para si”. “Não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se sente “doente de amor” (Ct 2,4-5)”.

São Boaventura, doutor da Igreja:

“Ainda que friamente aproxime-se confiando na misericórdia de Deus”.

Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja:

“Não há meio melhor para se chegar à perfeição”. “Não percamos tão grande oportunidade para negociar com Deus. Ele [Jesus] não costuma pagar mal a hospedagem se o recebemos bem”.

“Devemos estar na presença de Jesus Sacramentado, como os Santos no céu, diante da Essência Divina”.

São Bernardo, doutor da Igreja:

“A comunhão reprime as nossas paixões: ira e sensualidade principalmente”. “Quando Jesus está presente corporalmente em nós, ao redor de nós, montam guarda de amor os anjos”.

Santo Ambrósio, doutor da Igreja:

“Eu que sempre peco, preciso sempre do remédio ao meu alcance.”

São Gregório Nazianzeno, doutor da Igreja:

“Este pão do céu requer que se tenha fome. Ele quer ser desejado”.

“O Santíssimo Sacramento é fogo que nos inflama de modo que, retirando-nos do altar, espargimos tais chamas de amor que nos tornam terríveis ao inferno.”

São Tomás de Aquino, doutor da Igreja:

“A comunhão destrói a tentação do demônio.

Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja:

“A comunhão diária não pode conviver com o desejo de aparecer, vaidade no vestir, prazeres da gula, comodidades, conversas frívolas e maldosas. Exige oração, mortificação, recolhimento.”

“Ficai certos de que todos os instantes da vossa vida, o tempo que passardes diante do Divino Sacramento será o que vos dará mais força durante a vida, mais consolação na hora da morte e durante a eternidade”.

S. Pio X:

“A devoção a Eucaristia é a mais nobre de todas as devoções, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais salutar porque nos dá o próprio autor da graça; é a mais suave, pois suave é o Senhor”.

“Se os anjos pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar”.

Santo Agostinho, doutor da Igreja:

“Não somos nós que transformamos Jesus Cristo em nós, como fazemos com os outros alimentos que tomamos, mas é Jesus Cristo que nos transforma nele.”

“A Eucaristia é o pão de cada dia que se toma como remédio para a nossa fraqueza de cada dia.”

“Na Eucaristia Maria perpetua e estende a sua maternidade.”

São Gregório de Nissa, doutor da Igreja:

“Nosso corpo unido ao corpo de Cristo, adquire um princípio de imortalidade, porque se une ao Imortal”.

São João Maria Vianney, protetor dos párocos:

“Cada Hóstia consagrada é feita para se consumir de amor em um coração humano”.

Santa Teresinha do Menino Jesus:

“Não é para ficar numa âmbula de ouro, que Jesus desce cada dia do céu, mas para encontrar um outro céu, o da nossa alma, onde ele encontra as sua delícias”.

“Quando o demônio não pode entrar com o pecado no santuário de uma alma, quer pelo menos que ela fique vazia, sem dono e afastada da comunhão.”

Santa Margarida Maria Alacoque:

“Nós não saberíamos dar maior alegria ao nosso inimigo, o demônio, do que afastando-nos de Jesus, o qual lhe tira o poder que ele tem sobre nós.”

São Filipe Néri:

“A devoção ao Santíssimo Sacramento e a devoção à Santíssima Virgem são, não o melhor, mas o único meio para se conservar a pureza. Somente a Comunhão é capaz de conservar um coração puro aos 20 anos. Não pode haver castidade sem a Eucaristia.”

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Do livro: ”O Segredo da Sagrada Eucaristia”, Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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