A lei de nosso combate

1314638_97343416Revestidas da armadura de Deus

Devemos conquistar o mundo para Cristo. Na Crisma fomos ungidos e destinados a ser soldados de Cristo. Deste dever nenhum cristã é eximido. Cada um pode e deve cooperar. Mas como, na apreciação dos acontecimentos mundiais, existe o perigo de tudo ver e julgar pelo lado humano, assim também corre-se o risco de usar, com facilidade e prazer, poder e meios humanos na luta. Também aqui devemos libertar-nos dos “pensamentos humanos”, do modo natural de julgar, e em vez disso, à luz da fé, estudar as leis do combate por Deus.

Cristo – Nosso modelo na luta

Satanás lutou com ardor contra o Santo dos santos, contra aquele que de nenhum pecado podia ser acusado (Jo 8,46). Levou Jesus a um alto monte e mostrou-lhe num momento todos os reinos do mundo, dizendo-lhe: “Dar-te-ei todo este poder e glória, porque me foram entregues e eu os dou a quem quero. Portanto, se te prostraste diante de mim, tudo será teu” (Lc 4,5ss). Ao mundo inteiro e a toda a sua glória teria o demônio renunciado, se conquistasse um só, o “Nazareno”. Não o tendo conseguido, “afastou-se dele por algum tempo” (Lc 4,13). Não desistiu definitivamente do combate. Muitos escribas da lei, fariseus e herodianos trabalhavam a seu serviço. Sempre de novo procuravam apanhar Cristo em alguma palavra (Mc 12,13). Mas em vão. Conseguiu por fim unir Roma e Judá, “dois irmãos desiguais e inimigos”, a fim de condenar à morte o Salvador.

Satanás vencera, mas só na aparência. De fato, sofrera a maior e mais decisiva derrota. A hora de seu máximo triunfo foi a de sua mais vergonhosa retirada.

Não obstante sua astúcia, errara os cálculos; não soube tirar da vida e doutrina de Jesus a conclusão expressa nas palavras do Senhor: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Não refletiu que as leis do combate e da vitória nesse reino deviam ser de natureza diversa daquelas que ele, o espírito mentiroso, dita ao mundo. Sem dúvida, o Salvador, não só no Jardim das Oliveiras senão também no tribunal, teria podido obter de seu Pai mais de doze legiões de anjos (Mt 26,53). Contudo ele lutou e defendeu sua realeza, não pela força das armas, nem conforme o costume dos monarcas terrenos. Seu Reino não é deste mundo. Destarte Cristo decretou e promulgou solenemente a leu fundamental de seu Reino, válida para todos os tempos e regiões, para cada indivíduo e para todos os povos. Todos aqueles que querem pertencer a seu Reino, devem deixar que seus atos e até os mais secretos pensamentos e vontade sejam determinados e compenetrados por esta lei.

Só um apóstolo tomou armas para defender o Salvador; só um desembainhou a espada. A esse disse o Salvador: “Põe a tua espada na bainha” (Mt 26,32). Entregando-se totalmente e morrendo, o Salvador alcançou a vitória. Nesta loucura da Cruz encerra-se toda a sabedoria, nesta fraqueza está a nossa força, nesta completa derrota, o nosso triunfo. “A loucura de Deus é a mais sábia que os homens e a fraqueza (aparente) de Deus é mais forte que os homens” (1Cor 1,25).

Morrendo alcançaremos a vitória

A única lei de combate, o direito de guerra do Salvador, é também a condição da vitória para sua Igreja e seus fiéis; morrendo vencemos. O sangue dos mártires é a sementeira da Igreja. Logo que tomamos as armas – em sentido figurado – começa nossa derrota. “Todos os que tomarem a espada, pela espada morrerão” (Mt 26,52), sebm_aventurados_menor renunciarmos ao recurso das armas, a vitória será nossa. “Não vence o rei por seu poderoso exército, nem se livra o guerreiro por sua grande força” (Sl 32,16s). “Usarei de misericórdia para com a casa de Judá e salvá-la-ei por meio do Senhor, seu Deus, e não pelo arco, nem pela espada, nem pela guerra, nem pelos cavalos, nem pelos cavaleiros” (Os 1,7). Viver no mundo e usar as coisas do mundo; ter os dois pés na terra e todavia não se deixar contaminar pelo mundo e pelas coisas humanas, é tarefa difícil; difícil para a Igreja, que não pode prescindir de organização e de recursos mundanos, e difícil para os fiéis, que são homens de carne e sangue. Em tal situação, só o que nos pode socorrer é a fé viva que tudo coloca na verdadeira luz, que nos desapega do mundo e nos impele para o sobrenatural.

Nossa máxima força não se acha onde muitos dos nossos e todos os adversários da Igreja o imaginam, mas sim onde parece encontrar-se nossa maior fraqueza. Tornamo-nos sempre mais fortes, graças a nossos antagonistas. “Salus ex inimicis nostris”: A salvação nos vem dos inimigos. Quando eles gritam: “a Igreja está morrendo!”, ela desenvolve sua mais bela floração. Nossa força acha-se na ordem sobrenatural, jamais na “natureza”, nos recursos externos do poder, na organização. Aqui também valem as palavras: “É o Espírito que vivifica” (Jo 6,63). “Embora vivendo na carne, não militamos segundo a carne. As armas com que combatemos não são como as do mundo, mas são poderosas pela força de Deus” (2Cor 10,3s). Em certos casos devemos sofrer a injustiça, mas jamais cometê-la. Nunca devemos ingerir-nos em negócios e combates mundanos; se lutarmos à maneira do mundo, seremos sempre vencidos. Quanto mais o elemento mundano se infiltrar no terreno espiritual, tanto mais o espiritual perderá sua força de ataque e penetração.

Os combates do Senhor

Mostra-nos o Antigo Testamento como devemos travar os combates do Senhor. Com vento e trinta e cinco mil homens os Madianitas e Amalecitas invadiram o território de Israel. Gedeão chamou seus compatriotas às armas. Trinta e dois mil homens responderam ao seu apelo: um combatente contra quatro ou cinco inimigos. Entretanto, o Senhor disse a Gedeão: “Tens contigo muita gente e Madian não será entregue na sua mão para que Israel não se glorie contra mim, dizendo: Por minhas forças fui salvo”. Gedeão ordenou então que os medrosos os covardes, os tímidos se retirassem. Vinte e dois mil homens voltaram para casa. Ficou um Israelita contra treze ou catorze adversários. De novo falou o Senhor: “Ainda há muita gente; leva-os às águas e eu os provarei!” Só trezentos homens restaram como combatestes do Senhor. Um contra quatrocentos e cinquenta inimigos. “Com os trezentos homens – disse o Senhor – entregarei nas tuas mãos os Madianitas”. A Gedeão, que hesitava, o Senhor mostrou, por meio o sonho de um Madianita, que ele escolhe o que é fraco para confundir o que é forte (1Cor 1,27): “Tive um sonho – contava um soldado a seu camarada – e parecia-me ver como que um pão de cevada cozido debaixo da cinza, que rolava e ia cair sobre o acampamento de Madian. Tendo batido contra uma tenda, sacudiu-a com a pancada e lançou-a de todo por terra”. O impossível torna-se possível. Um leve pãozinho derruba uma grande tenda de guerra. Trezentos Israelitas põem em fuga cento e trinta e cinco mil homens (Jz 7,1ss). “O Senhor fará cair em tua presença os teus inimigos que se levantarem contra ti; virão contra ti por um só caminho e por sete fugirão de ti” (Dt 28,7). “Um só perseguirá mil e dois porão em fuga dez mil” (Dt 32,30), se, porém, confiares em tu própria força, sucederá o contrário. “Por um caminho sairás contra teus inimigos e por sete deles fugirás” (Dt 28,25).

O Senhor é poderoso para salvar-nos do poder do príncipe deste mundo. Esta certeza vale para todo combate que tenhamos de travar contra o poder das trevas. O Salvador sempre conduz sua Igreja à vitória. “Não temais, pequeno rebanho, porque aprouve a vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32). “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra” (Mt 5,5).

Richard Gräf

Retirado do livro: Bem-aventurados os que têm fome, Ed.Cléofas e Ed. Cultor de livros

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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