A Igreja está falando sozinha – EB

Revista; “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 391 – Ano 1994 – p. 559

 Em síntese: A Igreja não está falando sozinha quando lembra à sociedade os princípios básicos da Ética Sexual. Na verdade, o bom senso não se extinguiu por completo no mundo de hoje. Mas, ainda que falasse sozinha, estaria em melhores condições do que o coro daqueles que apregoam a destruição do verdadeiro amor, da família e da pessoa humana, expondo jovens e adultos aos perigos da AIDS e do aborto (único trauma que a mulher não consegue esquecer, segundo bons psicólogos). Merece respeito Aquela que não tem medo de peia de “estar falando sozinha”, se Ela o faz para o bem da humanidade.

O jornalista Gilberto Dimenstein, da FOLHA DE SÃO PAULO, acha que a “a Igreja está falando sozinha” quando lembra à sociedade de hoje as linhas básicas da Ética Sexual… Respondeu-lhe o Pe. Paschoal Rangel no jornal O LUTADOR, ed. de 21 a 27 de agosto de 1994, p. 2. Com a devida autorização e atendendo a solicitações de nossos leitores, publicamos, a seguir, o artigo do Pe. Rangel, a quem os agradecimentos sinceros da Redação de PR.

Igreja Desumana?
Simpatizando embora com a Igreja que lutou contra a ditadura, que defende os direitos humanos, se dedica ao social na pastoral da criança, nas lutas dos sem-casa e sem-terra etc., Gilberto Dimenstein não consegue entender a Igreja, quando esta se coloca contra a anticoncepção, contra a propaganda da prevenção da AIDS pelo uso da camisinha e coisas desse tipo. A propósito, ele comentou uma pesquisa de opinião do Datafolha que mostrava (?) que os “fiéis” não seguiam seus pastores, senão muito escassamente, no que se refere aos métodos de planejamento familiar ou do combate à AIDS. Neste ponto – pensa ele, que não faz parte, aliás, do corpo de “fiéis” – é bom que os católicos não sigam a Igreja. A explosão demográfica é um perigo gravíssimo. E combater o uso de camisinha contra a AIDS chega a ser “desumano”. A AIDS se espalha rapidíssima e assustadoramente e querer combatê-la com a castidade apenas é uma utopia. Com essa teimosa insistência contra a camisinha, a Igreja só estaria expondo seus “fiéis” a se contaminar e se condenar à morte.

Há uma incompreensão muito séria no tocante à posição da Igreja. Primeiro, ela não é uma família não-planejada. Pelo contrário. Foi mesmo a Igreja que pôs em circulação a idéia de “paternidade responsável”. Esta responsabilidade inclui necessariamente um planejamento familiar inteligente, saudável, levado a sério.

Essa responsabilidade exclui o engodo, a empulhação por parte de médicos e instituições nacionais ou internacionais, mantidas com dinheiro do Banco mundial, que têm levado uma multidão de jovens mulheres a se deixarem esterilizar em troca de míseras vantagens imediatistas. Dom Lucas Moreira Noves, Cardeal-Arcebispo de Salvador, já teve ocasião de denunciar, com base em dados que ele citou, que cerca de 20 milhões de mulheres, em idade fértil, já foram esterilizadas no Brasil, na maioria das vezes mulheres pobres, nordestinas, engazopadas por falsas promessas. Evidentemente, isso é um insulto ao Brasil, à consciência do povo, ao sentido de cidadania. E contra isso está a Igreja.

A responsabilidade exclui ainda uma “política” de “controle de natalidade”, em que o Estado decide pelo casal o número máximo de filhos que ele pode ter…

Seria bom observar que, em poucos anos, o Brasil mudou profundamente o seu perfil demográfico. Já não se pode afirmar, como há vinte anos, que somos um país com 60% da população com menos de vinte anos. As estatísticas demonstram que, em poucos anos, o Brasil envelheceu sensivelmente. E passamos de famílias com uma média de seis filhos cada uma, para famílias com média de 2,8 filhos cada uma, como mostrou o último censo. Foi uma queda brutal e arriscada, embora não se possa falar de graves perigos em pouco tempo.

Quando a Igreja se coloca contra o controle da natalidade efetuado a qualquer preço, por quaisquer meios, é importante pensar que:

1) ela se opõe e sempre, contra o aborto como se fosse um método lícito de controlar a natalidade; com isso, ela está lutando em favor da vida; o fato de ser uma vida por nascer não muda o fato de ser uma luta pela vida. Os que lutam pelo aborto, poderão dizer o que quiserem, mas estão lutando pela morte; mais, pelo “direito” de matar um inocente, porque se teme que esse ser humano que vai nascer, se torne uma ameaça ao bem-estar dos que já nasceram e estão aí. Quando se defende o direito de matar um feto defeituoso, estamos lutando em favor desse poder, arbitrário e opressor, de excluir da sociedade dos homens os doentes, os deficientes. Quem nos dá esse direito? Algum Hitler? Lutar pelo aborto é lutar pela morte

2) Ela está batalhando pelo sexo responsável, pela defesa da sexualidade humana, contra a banalização do sexo, tornado uma diversão, cultivado como um jogo irresponsável. O que temos ouvido em campanhas até patrocinadas pelo Ministério, veiculadas por um pessoal que tem a maior obrigação de ser responsável em vista do poder de influir na opinião pública (artistas, jornalistas, donos de televisão etc.), o que temos ouvido, é que os jovens, os adolescentes inclusive, não tenham medo de “namorar”, de transar com qualquer um, contanto que usem camisinha… Com camisinha, “amem” sem medo. Ao lado disso, filmes eróticos e pornográficos, cenas eróticas em novelas, excitações sexuais longas e repetidas, convite à liberação geral, irresponsável… Depois se vem dizer que a castidade é utopia.

Mas, além disso, o que não se diz, o que nem o Gilberto Dimenstein se lembrou de dizer, é que esse permanente convite à transa, ao sexo livre, promíscuo, inclusive homossexual, aumenta perigosamente a incidência de casos de contaminação com o HIV (o vírus da AIDS). Pois a camisinha diminui sensivelmente os casos de contaminação, mas não é um método seguro: ela se rompe, ela pode não ser bem colocada e deixar vazar o esperma; ela, às vezes, está na bolsa do fulano e da fulaninha, mas a excitação do momento é tão forte que os parceiros não se lembram de usá-la ou não querem interromper a excitação para isso… E, multiplicados os casos de transa promíscua ou homossexual, graças à propaganda e à erotização generalizada, os casos de contaminação, apesar da camisinha, se tornam muito mais numerosos. Será a Igreja que está sendo desumana, ou são os jornalistas, os artistas, os publicitários, do donos de TV, que criam situações de contágio muito mais frequentes e perigosas?

E isto sem falar da degeneração dos costumes, da Moral, da perda do sentido da sexualidade humana, do senso de responsabilidade, do significado do Evangelho.

Comentando…
O Pe. Paschoal Rangel bem mostra que desumana não é a Igreja, mas são aqueles que ousam, talvez de boa fé, enganar os jovens e o público em geral; são “simpáticos”, porque não vão contra a onda; parecem apenas  propor “salvaguardas” para que continue a livre satisfação dos impulsos descontrolados. As conseqüências desta atitude são a multiplicação dos casos de AIDS, a gravidez indesejada e o aborto (único trauma que a mulher não consegue esquecer, como dizem bons psicólogos) e outros males decorrentes das paixões desencadeadas. – A Igreja não está falando sozinha, porque o bom senso não se extinguiu por completo em nossa sociedade; mas, ainda que falasse sozinha, estaria em melhores condições do que aqueles que falam em coro, apregoando a destruição do verdadeiro amor, da família e da pessoa humana. Merece respeito Aquela que não tem medo da peia de “estar falando sozinha”, se Ela o faz o bem da humanidade.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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