A Igreja Católica – Formação da Igreja Católica – Parte 1

“Jesus de Nazaré (…)
surgiu no ambiente sociocultural do mundo judaico na Palestina no início do
Império Romano e iniciou sua missão na Galiléia (…), e nessa região ele
chamou os primeiros discípulos e constituiu a primeira ‘comunidade’ (Mt. 10,2)
cristã (…). Com o aumento dos discípulos de Cristo (At. 6,1), os Apóstolos de
Jesus tomaram consciência da necessidade de formarem uma entidade original,
formando assim comunidades que passaram a ser designadas nos Atos dos Apóstolos
com o nome de: ‘Assembléia’. E as primeiras Assembléias conhecidas foram as de
Jerusalém, de Antioquia (At. 14,27), de Cesaréia (18,22) …, e todas tinham
consciência que elas formavam uma única Assembléia ‘em um só coração e uma só
alma’ (At. 4,32); e os Apóstolos foram repartidos e enviados para as regiões de
influência: região dos Partos, Ásia, Scintia, etc.; chegando até do outro lado
do Tigre, (…). Assim surgiram as primeiras comunidades cristãs fora do
Império Romano e à luz do Espírito Santo, tomavam consciência de sua plenitude
cósmica (Ef. 1,23) (…)” (As Igrejas Orientais Católicas e Ortodoxas –
Tradições Vivas. Roberto Khatlab, Ave Maria Edições).

FORMAÇÃO DOS RITOS ORIENTAIS

“A partir da primeira
comunidade de Jerusalém outras Comunidades foram formadas, passando a serem
Comunidades locais em torno de outras cidades antigas; todas conservando um
acordo universal em fé e moral, segundo as Escrituras e a Tradição de
Jerusalém. No entanto as comunidades se desenvolveram e se engajaram nos
costumes próprios da região e assim nasceram os diversos ‘Ritos’ que formaram
‘famílias litúrgicas’, que no Oriente passaram a ser ‘Igrejas Rituais’ com
costumes e disciplinas próprias. Nos séculos II e III, podemos nos certificar
de vários cultos litúrgicos em diferentes centros da cristandade. No século IV,
documentos nos revelam a existência de ritos diversos. No Oriente, nesse
período, já existiam quatro classes de ritos (…).

A partir do século V, as
comunidades cristãs estavam situadas e organizadas nos grandes centros do
Império e formaram e constituíram as Sés, que passaram a ser chamadas de
‘Patriarcados’ e no Oriente foram constituídas quatro grandes Patriarcados:
Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Com o desenvolvimento dos
Patriarcados, acima citados, estes acabaram por eliminar os ritos particulares,
e no Oriente se concentraram em três grandes ritos:

Rito de Constantinopla ou
Bizantino (…);

Rito de Antioquia e de
Jerusalém (…);

Rito de Alexandria (…).

Com essa formação, em três
ritos, não quer dizer que todos os ritos particulares desapareceram. Alguns
sobreviveram sob a influência de heresias ou da situação política do Império e
não se sujeitaram à autoridade central dos Patriarcados, mas continuaram com os
antigos ritos das metrópoles: (…). Nessa organização, os ritos progrediram
(…). Portanto as Igrejas Orientais locais, fundadas pelos Apóstolos e seus
sucessores, são unidas entre elas em uma mesma fé, mas diferentes em seus
‘Ritos’, que é um elemento constitutivo de uma comunidade em torno de uma
liturgia, em que são manifestados os patrimônios teológicos, espirituais … de
um povo, dentro de seu ambiente sócio-religioso-cultural. Assim no Oriente os
‘Ritos’, além de cerimônias religiosas e costumes litúrgicos, no sentido
clássico da palavra, passou para um sentido mais amplo, e tornaram-se
‘Igrejas-Ritos’; no seio da Igreja Universal, passaram a ser Igrejas ‘sui
iuris'” (As Igrejas Orientais Católicas e Ortodoxas – Tradições Vivas.
Roberto Khatlab, Ave Maria Edições).

FORMAÇÃO DO RITO LATINO

“A distinção entre
Igreja latina e Igreja oriental teve sua primeira origem na divisão política do
Império romano em ocidental e oriental, realizada no ano 285 por Diocleciano
(284-305); reconhecida na prática por Constantino (306-337), que muda a capital
para Bizâncio no ano 330, dando-lhe ademais seu próprio nome; é consumada, no
ano 395, por Teodósio (379-395), apesar de que todos os súditos do Império
continuavam chamando-se romanos, inclusive na língua grega” (La Ley de La Iglesia. Jose Maria
Piñero Carrion, Coleccion Sintesis, Sociedade de Educacion Atenas, Madrid,
España, tradução livre).

PATRIARCA / PATRIARCADO

“Desde as origens da
Igreja, há sés episcopais que desempenham um papel particular, bastante
superior ao das sés metropolitanas. Trata-se das sés episcopais das principais
cidades do império, que foram, ao mesmo tempo, o ponto de partida da
evangelização: Roma, Alexandria, Antioquia, mas também Cartago. Os bispos
dessas cidades intervêm num território muito maior que a simples província em
que se situam, a fim de reunir concílios, confirmar bispos etc.” (Para Ler
a História da Igreja – Das Origens ao Século XV. Volume I, Jean Comby, Edições
Loyola).

“Etimologicamente,
patriarca significa pai em grau supremo, ou pai das origens. (…) Na
organização eclesiástica dos orientais, patriarca é ‘o bispo que tem jurisdição
sobre todos os bispos, não excetuados os Metropolitas, sobre o clero e o povo
do mesmo território ou Rito, de acordo com a norma do direito’. Na tradição
ortodoxa, a Igreja Universal deveria dirimir suas controvérsias mediante acordo
da pentarquia ou conjunto dos cinco patriarcados antigos e apostólicos:
Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma e Constantinopla (Bizâncio),
reconhecidos pelos primeiros Concílios Ecumênicos. (…) No ocidente, usa-se o
título de ‘patriarca’ como meramente honorífico” (Guia Ecumênico. Estudos
da CNBB nº 21, Edições Paulinas).

RUPTURA ENTRE IGREJA LATINA
E IGREJA GREGA

“Política e religião –
Desde o século V, o fosso entre a Igreja latina e a Igreja grega não parava de
se acentuar. As razões disso são, a um só tempo, políticas, culturais e
dogmáticas. A Igreja grega se encontra vinculada ao poder bizantino. O
imperador faz e desfaz os patriarcas de Constantinopla. Paralelamente, os
bispos de Roma se libertaram da tutela teórica de Constantinopla. Ao restaurar
o Império do Ocidente, o papado parecia empreender uma operação política contra
o imperador de Constantinopla e as Igrejas estavam indiretamente engajadas
nessa tensão entre os dois impérios.

Diferenças culturais – Bem
mais grave se revela o fosso cultural. As duas Igrejas não se compreendem mais.
O Oriente desconhece o latim e o Ocidente muito mais o grego. Herdeiros de uma
grande cultura, os gregos permanecem fiéis a ela, tanto no domínio profano como
no domínio religioso. No Ocidente, o renascimento carolíngeo logo se esgotou.
Nos poucos contatos que mantém, gregos e latinos se odeiam cordialmente. Para
os bizantinos, os latinos, essas pessoas do país das trevas, são rústicos,
selvagens, incultos e glutões! Para os latinos, os gregos são degenerados,
efeminados, detalhistas ao extremo. O qualificativo ‘bizantino’ tornou-se,
desde então, pejorativo.

Liturgia e doutrina – São
ainda as divergências litúrgicas e doutrinais que opõem as duas Igrejas. Para
os gregos, o rito é a fé em ação. No Ocidente, distingue-se mais facilmente a
doutrina do rito. Para um oriental, mudar os ritos é mudar a fé. Essa é a razão
por que as questões referentes aos jejuns, ao pão ázimo ou fermentado, às
barbas dos celebrantes, assumem grande importância. No Oriente, monges e bispos
são celibatários, mas os padres se casam. No Ocidente, exige-se o celibato para
todos os padres, ou, pelo menos em princípio, os homens casados renunciam à
vida conjugal após a sua ordenação. Os gregos recriminam os latinos por terem
modificado a fórmula de fé através do acréscimo do “filioque” ao
Credo de Nicéia-Constantinopla. ‘O Espírito procede do Pai’, diz o Credo; ‘e do
Filho’, acrescentam os latinos. Há um matiz teológico na compreensão do papel
do Espírito. Ignorantes em termos de história, os latinos acusam os gregos de
terem suprimido a expressão” (Para Ler a História da Igreja – Das Origens
ao Século XV. Volume I, Jean Comby, Edições Loyola).

CISMA ORIENTAL

“Mas apesar de todas as
tentativas de viverem juntos (Roma e Bizâncio), no início do século XI,
aconteceu a maior cisão histórica da Igreja (…). Após freqüentes discussões,
o conflito explodiu definitivamente em 1054, data simbólica do ‘Cisma
Oriental’, chamado também de ‘Cisma grego’ e ‘Cisma bizantino’. (…) Em 25 de
março de 1043, Miguel Celulário é eleito Patriarca de Constantinopla (…). O
Patriarca Miguel iniciou uma campanha de difamação e acusações contra os
latinos, fechou igrejas latinas em Constantinopla e cobriu de anátemas o clero
latino. (…) Diante desse fato, o Papa Leão IX confiou ao Cardeal Humberto de
Mouenmutier a missão de responder a estas acusações. O Cardeal Humberto usou
todas as suas forças para defender a autoridade da Santa Sé Apostólica,
concluindo com um pedido de paz e de concórdia. Em seguida houve uma
correspondência com o Patriarca de Antioquia, que declarou o desejo de ficar em
comunhão com a Igreja de Roma, sem entrar muito nos detalhes das discussões entre
Roma e Constantinopla. (…) Em seguida o Papa Leão IX decide enviar uma
comissão a Constantinopla dirigida pelo Cardeal Humberto, bispo de Silva
Cândida, um dos principais membros da Cúria Romana, Frederico de Lorraine
(futuro Papa Estevão IX [1057-1058]) e Pedro, Bispo de Amalfi. O objetivo é
dialogar com o Patriarca Miguel Cerulário e o Rei (Basileus) Constantino IX,
por isso levaram duas cartas, uma ao Rei e outra ao Patriarca. A carta ao Rei
era sobretudo de ordem política e abordava algumas atitudes do Patriarca Miguel
em 1052 contra os latinos. A carta ao Patriarca Miguel continha logicamente as
afirmações de união que este sempre apresentou, mas continha também os
comentários de suas irregularidades jurídicas contra as Sés, justificados pelo seu
título de ‘Patriarca Ecumênico’. O conteúdo era rigoroso, apresentando o
temperamento de Humberto, mais forte que o Papa Leão IX.

Ao chegar em Constantinopla,
a comissão foi visitar o Rei e entregou-lhe a carta. No momento de encontrar o
Patriarca Miguel, a comissão não quis fazer o cerimonial junto ao Patriarca, e
este, por sua vez, duvidando que a carta do legado, Cardeal Humberto, fosse
realmente do Papa Leão IX, ignorou a comissão, principalmente quando soube que
o Papa tinha falecido (19 de abril de 1054), e recusou-se a dialogar. O Cardeal
Humberto e a comissão, não conseguindo convencer o Patriarca Miguel, decidiram
deixar Constantinopla, e no dia ’16 de julho de 1054′, sábado antes da
liturgia, os enviados do Papa foram à igreja de Santa Sofia, e o Cardeal
Humberto agindo de sua própria autoridade, sendo que o Papa Leão IX tinha
falecido, colocou sobre o altar-mor uma ‘Bula de Excomunhão’. Este documento
continha a marca do Cardeal Humberto, defensor das idéias da reforma da Igreja,
primazia do Papa de Roma e seu direito de guardar toda a Igreja. Foi um golpe
rápido e em seguida foram ao Palácio se despedir do Rei, que nada sabia sobre a
Bula de Excomunhão, que a comissão deixou sobre o altar-mor da igreja de Santa
Sofia, mas não reagiu imediatamente. Deixou circular rumores para excitar a
cólera do povo contra a comissão dos latinos. Em seguida (dia 21 de julho), o
Patriarca Miguel reuniu um Sínodo e excomungou solenemente o legado pontifício
e seus companheiros, entretanto o Sínodo tomou a precaução de não atingir o
Papa, excomungando apenas o legado e sua comitiva.

O Patriarca Miguel Cerulário
teve sua vitória, fez o Rei desistir da união, vingou-se de Roma. (…) E a
separação definitiva não foi com o Patriarca Fócio (século IX), nem com o
Patriarca Miguel Cerulário (século XI), pois apesar das divergências entre Roma
e Constantinopla, os Patriarcas Orientais permaneceram em comunhão parcial com
o Papa de Roma. A verdadeira causa da ruptura aconteceu principalmente na época
das Cruzadas, quando estes dirigindo-se para a ‘Terra Santa’ desviou-se até
Constantinopla e a colocou em sítio, e saquearam os museus levando as
Relíquias, obras de arte, tesouros bizantinos … Os bispos orientais foram
substituídos por latinos, aumentando ainda mais as divergências entre gregos e
latinos. O cisma estava confirmado entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente,
que permanece até o dia de hoje. E enfim a cisão de 1054, entre a Igreja de
Roma (Ocidente) e a Igreja de Constantinopla (Oriente), levou outras Igrejas do
Oriente, sem nenhum ato formal, a seguirem o exemplo de Constantinopla e se
separaram também da Igreja de Roma e passaram a serem subsidiárias da Sé de
Constantinopla.

A partir do ‘Cisma Oriental’
foi formada a ‘Igreja dissidente do Oriente’ e chamaram-se ‘Ortodoxos’, os
portadores da ‘verdadeira fé’ em oposição à Igreja Católica (do Ocidente).
(…) As igrejas dissidentes do Oriente, após abandonarem o centro da unidade
se dividiram em numerosas e separadas Igrejas nacionais, autocéfalas ou
autônomas, e aos poucos foram se emancipando do Patriarcado de Constantinopla e
elegendo cada uma um Patriarca ou Metropolita próprio, e hoje o Patriarca de
Constantinopla não exerce nenhuma jurisdição sobre as outras Igrejas; o mesmo
possui apenas um primado de honra desde o ano 350” (As Igrejas Orientais
Católicas e Ortodoxas – Tradições Vivas. Roberto Khatlab, Ave Maria Edições).

VOLTA À UNIÃO

“Desde o século XII
voltaram à unir-se com a Igreja de Roma muitos dos separados, ainda que
conservando seu próprio patriarcado e rito, sendo conhecidos como ritos
orientais católicos, igrejas orientais unidas, patriarcados unidos ou igreja
grega, pela língua usada, ou igreja bizantina pela cidade de
Bizâncio-Constantinopla, considerada capital de todo o oriente” (La Ley de La Iglesia. Jose Maria
Piñero Carrion, Coleccion Sintesis, Sociedade de Educacion Atenas, Madrid,
España, tradução livre).

DECLARAÇÃO COMUM

“Após séculos de hostil
distanciamento, a Declaração conjunta do papa Paulo VI e do patriarca
Atenágoras I, na véspera do encerramento do Concílio Vaticano II, a 7 de
dezembro de 1965, inaugurou um novo período de aproximação, reconciliação e
confiança mútua entre as duas igrejas” (Cristianismo 2.000 Anos de
Caminhada. Alberto Antoniazzi e Henrique Cristiano. Suplemento da Revista
Família Cristã. Edições Paulinas).

Anátema: Termo grego
aplicado, como o hebreu “cherem”, tanto ao processo de excomunhão
como ao objeto sobre o qual recai uma maldição e que é considerado, portanto,
intocável.

Excomunhão: Desligamento da
comunhão (religiosa); o termo hebraico correspondente é “cherem”. Nos
tempos talmúdicos, a excomunhão era empregada, comumente, como arma contra os
judeus considerados responsáveis por ensinamentos tidos como perigosos à comunidade.
Consistia na completa ruptura de relações pessoais, comerciais, sociais e
religiosas com o acusado, até seu arrependimento.

(As Religiões ontem e hoje.
Dr. Hugo Schlesinger e Pe. Humberto Porto. Edições Paulinas).

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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