A fé que salva uma nação

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É necessário que hoje surjam novos “Macabeus”; não para defender a Lei de Deus e da Igreja com as armas do passado, mas com as de hoje!

Umas das páginas mais emocionantes da Bíblia é a narração dos livros de Macabeus, que descreve a resistência dessa família judaica contra a imposição que o rei pagão sírio Etíoco Epifanes IV quis submeter Israel, profanando o Templo de Jerusalém, com aquilo que o profeta Daniel chamou de “abominação da desolação”. Este rei tinha dominado Jerusalém depois de saqueá-la e matar muita gente. Derramaram sangue inocente e profanaram o Santuário. “Seu templo ficou desolado como um deserto, seus dias de festa se transformaram em dias de luto, seus sábados, em dias de vergonha, e sua glória em desonra” (1 Mac 1,39).

E o rei quis implantar a todo custo o paganismo em Israel, forçando o povo de Deus a viver segundo os costumes pagãos, helênicos. Toda esta bela narrativa pode ser vista nos dois livros de Macabeus.

Muitos judeus abandonaram a Lei de Deus; assim foram narrados os acontecimentos:

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“Afastaram-se da aliança com Deus, para se unirem aos estrangeiros e venderam-se ao pecado… Muitos de Israel adotaram a sua religião, sacrificando aos ídolos e violando o sábado… Por intermédio de mensageiros, o rei enviou a Jerusalém e às cidades de Judá, cartas prescrevendo que aceitassem os costumes dos outros povos da terra, suspendessem os holocaustos, os sacrifícios e as libações no Templo, violassem os sábados e as festas, profanassem o Santuário e os santos, erigissem altares, templos e ídolos, sacrificassem porcos e animais imundos, deixassem seus filhos incircuncidados e maculassem suas almas com toda sorte de impurezas e abominações, de maneira a obrigarem-nos a esquecer a Lei e a transgredir as prescrições. Todo aquele que não obedecesse à ordem do rei seria morto. Foi nesse teor que o rei escreveu a todo o seu reino; nomeou comissários para vigiarem o cumprimento de sua vontade pelo povo e coagirem as cidades de Judá, uma por uma, a sacrificar. Houve muitos dentre o povo que colaboraram com eles e abandonaram a lei. Fizeram muito mal no país. Ofereciam sacrifícios diante das portas das casas e nas praças públicas, rasgavam e queimavam todos os livros da lei que achavam; em toda parte, todo aquele em poder do qual se achava um livro do testamento, ou todo aquele que mostrasse gosto pela Lei, morreria por ordem do rei. Com esse poder que tinham, tratavam assim, cada mês, os judeus que eles encontravam nas cidades e, no dia vinte e cinco do mês, sacrificavam no altar, que sobressaía ao altar do templo. As mulheres, que levavam seus filhos a circuncidar, eram mortas conforme a ordem do rei, com os filhos suspensos aos seus pescoços. Massacravam-se também seus próximos e os que tinham feito a circuncisão” (1 Mac 1,1-62).

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Quando leio e medito essas passagens, fico vendo o que acontece em nosso país hoje, que parece sofrer algo semelhante, embora de maneira diferente; uma nação cristã, que nasceu sob o signo da Cruz e da santa Missa (Terra de Santa Cruz!), mas que hoje vê as santas Leis de Deus profanadas, não por um rei estranho, mas pelo seus próprios filhos. Seus Representantes legais e judiciais aprovam leis iníquas e imorais, que contradizem a santa vontade de Deus: Aborto, eutanásia, suicídio assistido, inseminação artificial, manipulação e morte de embriões humanos, casamento de pessoas de mesmo sexo, uniões “conjugais” escandalosas, divórcio, uniões livres, camisinha, pílula abortiva do dia seguinte, pornografia, nudismo, prostituição profissional…

Mas, como sempre, houve aqueles judeus que não se renderam; mas enfrentaram os incrédulos: “Numerosos foram os israelitas que tomaram a firme resolução de não comer nada que fosse impuro, e preferiram a morte antes que se manchar com alimentos; não quiseram violar a santa Lei e foram trucidados. Caiu assim sobre Israel uma imensa cólera” (1 Mac 1,62-64).

Que testemunho maravilhoso, por exemplo, daquela mãe que preferiu ver seus sete filhos serem martirizados diante dela do que renegar a Lei de Deus. Um deles disse ao carrasco, prestes a dar o último suspiro: “Maldito, tu nos arrebatas a vida presente, mas o Rei do universo nos ressuscitará para a vida eterna, se morrermos por fidelidade às suas leis” (2 Mac 7, 9). Disse o escritor sagrado que:

“Particularmente admirável e digna de elogios foi a mãe que viu perecer seus sete filhos no espaço de um só dia e o suportou com heroísmo, porque sua esperança repousava no Senhor. Ignoro, dizia-lhes ela, como crescestes em meu seio, porque não fui eu quem vos deu nem a alma, nem a vida, e nem fui eu mesma quem ajuntou vossos membros. Mas o criador do mundo, que formou o homem na sua origem e deu existência a todas as coisas, vos restituirá, em sua misericórdia, tanto o espírito como a vida, se agora fizerdes pouco caso de vós mesmos por amor às suas leis” (v.20-23).

E diante da ousadia diabólica do rei Antíoco, surgiu uma família corajosa, os Macabeus, que não se renderam e expulsaram os inimigos e Israel no poder de Deus. O patriarca Matatias, sacerdote, enfrentou os infiéis. Diante do convite dos delegados do rei, para que ele apostatasse e recebesse as benesses do rei, Matatias foi corajoso:

“Ainda que todas as nações, incorporadas no império do rei, passem a obedecer-lhe, abandonando a religião de seus antepassados e submetendo-se aos decretos reais, eu, meus filhos e meus irmãos, continuaremos seguindo a aliança de nossos pais. Deus nos guarde de abandonarmos sua Lei e seus mandamentos. Não atenderemos às ordens do rei e não nos desviaremos de nossa religião nem para a direita nem para a esquerda” (Mac 2, 19-22). E Matatias saiu gritando em alta voz pela cidade: “Quem tiver amor pela Lei e quiser conservar a aliança, venha e siga-me!” (v.20-27).

Em suas mãos a campanha teve pleno êxito, de modo que a Lei foi defendida contra os pagãos e seus reis, e não permitiram que o pecador triunfasse (47-48). Morrendo Matatias, seus filhos, chefiados por Judas Macabeus, continuaram a luta por Deus. “Quanto a vós, meus filhos, sede corajosos e destemidos em observar a Lei, porque por ela chegareis à glória” (v. 64). E Judas continuou a luta heroica do pai: “Percorreu as cidades expulsando de Judá os ímpios, desviando assim de Israel a cólera divina” (1 Mac 3, 8).

Diante daquele exército numeroso dos gentios, Judas disse aos que os temiam: “É fácil, respondeu Judas, a um punhado de gente fazer-se respeitar por muitos; para o Deus do céu não há diferença entre a salvação de uma multidão e de um punhado de homens, porque a vitória no combate não depende do número, mas da força que desce do céu… O próprio Deus os esmagará aos nossos olhos. Não os temais” (v.18-22).

O lema de Judas era esse: “Levantemos nossa pátria de seu abatimento e lutemos por nosso povo e nossa religião” (V.43)… “é preferível morrer no combate, que ver nosso povo perseguido e profanado nosso Santuário. Que se faça somente a vontade de Deus!” (V.59-60).

Diante dos inimigos, na hora do combate, disse Judas: “Gritemos agora para o céu para que ele se apiede de nós, que se lembre da Aliança com nossos antepassados e queira hoje esmagar esse exército aos nossos olhos” (1 Mac 4,10). “Travou-se a batalha, mas os inimigos, derrotados, puseram-se em fuga através da planície” (v. 14). “E assim venceram os inimigos. Judas e seus irmãos disseram então: Eis que nossos inimigos estão aniquilados; subamos agora a purificar e consagrar de novo os lugares santos” (v. 36).

Jesus disse: “Quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10,32-33). Negar a Lei de Deus e da Igreja, deixar de lutar contra a sua abolição, é negar Jesus Cristo.

É necessário que hoje surjam novos “Macabeus”; não para defender a Lei de Deus e da Igreja com as armas do passado, mas com as de hoje, as da democracia: nas ruas, nos parlamentos, nas escolas, nas rádios, nos jornais, nas TVs, nas revistas, nas catequese, nas igrejas, nos grupos de oração, nas famílias, em toda parte. “Mutatis mutandis” (mudando o que deve ser mudado), a batalha é a mesma; Deus é o mesmo; suas Leis sagradas dadas por Cristo à Igreja são as mesmas, e não podem ser abolidas. Que ninguém se omita; é Deus quem nos dará a vitória, Ele não perde batalhas quando os seus servos não desistem de lutar e não se omitem na hora da luta, diante dos infiéis.

A batalha já começou há tempos; se não quisermos ver nossos filhos e netos afogados em práticas pagãs, enfrentemos esse combate.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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