A estrela que guiou os Magos

“A estrela que guiou os magos ao presépio não constitui um fenômeno milagroso?”

1. Primeiramente, alguns dados sobre os magos de Mt. 2

O nome “mago” vem do sânscristo mahat, grande, dando em pehlvi a forma mogh, sacerdote. Conforme Heródoto e Xenofonte, os magos constituíam entre os medos e persas uma casta sacerdotal muito conceituada, que se ocupava principalmente de adivinhação, astrologia e medicina. É bem possível que os magos dos quais fala o Evangelho fossem realmente sábios sacerdotes da Pérsia (alguns exegetas preferem a Caldeia, por ser esta a terra clássica dos astrólogos e matemáticos; outros, a Arábia, visto que a palavra “Oriente”, empregada pelo Evangelista, costumava na geografia palestinense da época designar a Arábia).

Os magos terão tido conhecimento da expectativa dos judeus referente à vinda de um grande Rei ou do Messias, já que os israelitas após o exílio (séc. VI a.C.) haviam espalhado por todo o Oriente a sua fé no Salvador vindouro; esse Salvador era mesmo simbolizado por uma estrela, conforme a profecia de Balaão:

“Uma estrela que sai de Jacó, torna-se Chefe;

Um cetro se levanta, procedente de Israel” (Num 24, 17).

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Tão difusa era a expectativa israelita que Tácito (+ 120) chegou a escrever apesar de todo o seu garbo romano:

“Os homens estavam geralmente persuadidos, à luz da fé de antigos profetas, de que o Oriente ia tomar a vanguarda, e, dentro em breve, se veriam sair da Judéia aqueles que governariam o universo” (Histor. V 23).

Compreende-se, à luz destes precedentes, que sábios pagãos orientais tenham reconhecido, no aparecimento de um novo sinal luminoso no céu, a vinda de grande Personagem aguardado como Renovador do mundo.

2. Pergunta-se agora em que consistia precisamente esse sinal luminoso.

O termo grego áster de Mt 2, 2 podendo significar tanto estrela como astro, como também fenômeno astronômico, os exegetas tem proposto as mais variadas opiniões para o interpretar:

a) durante muito tempo esteve em voga a sentença de Kepler (+ 1630), que explicava o sinal luminoso como sendo o resultado da conjunção dos planetas Júpiter e Saturno no signo zodiacal dos Peixes; esta conjunção se deu de fato no ano 747 de Roma (7 a.C.). Tal sentença levaria a recuar o nascimento de Jesus até o ano 8º a.C. (746 de Roma). A hipótese, porém, está hoje muito desprestigiada, pois. Se vê que não corresponde suficientemente aos dados do texto evangélico (o fenômeno de conjunção de astros por si não indica roteiro sobre a terra; não teria, pois, apontado aos magos o caminho de Belém).

b) Outros autores apelam para o aparecimento de um cometa; assim Orígenes, já no séc. III, e em nossa época o famoso Pe. Lagrange. A passagem do cometa de Halley, que em 1910 foi visível em sua rota do Oriente para o Ocidente, corroborou em muitos estudiosos a opinião de Orígenes. Sabe-se, porém, que o cometa de Halley passou sobre as terras do Oriente e do Ocidente no ano 12 a.C., e não em 6 a.C.: os chineses assinalam, sim, o aparecimento de outros cometas em 4 e 3 a.C., osquais, porém, parecem não ter sido observados no Ocidente. Além disto, objeta-se que os cometas só podem ser observados à noite e, por seu roteiro muito longínquo no firmamento, não indicam senão vaga direção, insuficiente para se localizar tal pontinho preciso que é uma casa sobre a terra.

c) Não resta, portanto, senão a opinião que realmente parece corresponder à mente do Evangelista e à dos antigos Padres da Igreja: trata-se em Mt de um fenômeno milagroso (quanto ao modo como foi produzido), ou seja, de um meteoro que Deus quis servisse especialmente aos magos de ponteiro e guia para a viagem que deviam empreender, à semelhança da coluna luminosa que precedia os israelitas na travessia do deserto (cf. Ex 13, 21): o astro, por disposição divina, mostrou-se aos magos e desapareceu estritamente segundo as exigências do caso. Vão, por conseguinte se torna procurar explicação meramente natural para fenômeno. – É esta a sentença dos melhores comentadores católicos contemporâneos (Benoit, Buzy, Ricciotti…).

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 3, Ano 1958, p. 116

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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