Deus se revelou a Moisés como “Aquele que é” (Ex 3,14). Na plenitude de seu Ser infinito, a fé nos leva a adorar uma Trindade de pessoas realmente distintas. Distinção real, não meramente fenomenal ou funcional. Como ensina Tertuliano, a monarquia divina permanece indivisível, mas está distribuída entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta diversidade não impede a soberana unidade da divindade, pois as três pessoas têm a mesma essência em uma harmonia e identidades perfeitas. Três Centros de Consciência, três Modos de existir, três Hipóstases ontologicamente relacionadas e não apenas em plano meramente dinâmico e relacional. Tríade divinal que patenteia o Pai, o Filho e o Espírito Santo eternamente unidos no mesmo nome – Deus, no idêntico poderio e glória, numa inefável reciprocidade de conhecimento e afeição profunda. Mistério sublime: desde toda eternidade o Pai se conhece. Este pensamento é eterno, substancial, é a imagem de toda vida divina igual a sua origem. Eis a segunda pessoa, o Filho, o Verbo eterno. O Pai e o Filho eternamente se amam. Este amor é essencial, intemporal, é o Espírito Santo, Terceira Pessoa, que procede do Pai e do Filho. Pois bem, na plenitude dos tempos, como ensina São Paulo (Gl 4,4), Deus enviou o seu Filho ao mundo. Assim se expressou São João: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus […] O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 1.14). Na única Pessoa eterna do Filho uniram-se duas naturezas, a divina, que já possuía desde toda a eternidade, e a humana, recebida no seio da Virgem Maria. É o que os teólogos denominam união hipostática, ou seja, a união destas duas naturezas na única Pessoa do Verbo Divino.
Ario e seus sequazes não admitiam a divindade do Redentor, heresia reprovada nos Concílios de Nicéia em 325 e de Constantinopla em 381. Em Jesus há duas naturezas o que negaram os hereges chamados monifisitas que só admitiam uma natureza no Verbo Encarnado e foram condenados no Concílio de Calcedônia em 451.Cristo tem duas vontades, a divina e a humana, o que negaram os adeptos do monotelismo, erro repelido no Concílio de Latrão em 649. Cremos, realmente, em Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro! O Verbo Encarnado constitui o modelo acabado da relação entre Deus e o homem, ou seja, o exemplar perfeito de toda relação entre o Criador e sua criatura. Toda a vida cristã, não apenas o início no batismo e o fim na ressurreição, é vista como imitação da encanação do Filho de Deus. Esta verdade é, realmente, nuclear na cristologia, mormente no que diz respeito ao mistério da salvação, isto é, à soteriologia. Impressionante a humildade de Deus, como chamou a atenção São Paulo na Carta aos Filipenses, pois Jesus, “aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido por condição como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,7-9).
O mistério da Encarnação é uma lição viva da necessidade de se combater a soberba para se chegar ao amor de Deus e do próximo, ou seja, à verdadeira justiça que leva à vida eterna beatífica. A Encarnação nos lembra ainda a gratuidade absoluta, total da graça divina, sem a qual é impossível imitar a humildade de Cristo. Por outro lado, Deus se fez carne e habitou entre nós, obtendo a grande vitória sobre as forças do mal, verdade basilar, dado que o Ser Supremo em Cristo, conduz o homem livre e por Ele mesmo criado, mas exposto a tantos influxos nefastos externos, a se voltar livremente para uma união livre com Ele. Cumpre acatar a salvação que o Verbo Encarnado oferece. É preciso valorizar a vinda de Deus a este mundo, seguindo fielmente tudo que Cristo,” caminho, verdade e vida” (Jo 14,6) ensinou. * Professor no Seminário de Mariana – MG
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho