A conversão sempre é possível

1314638_97343416Os ateus dizem que Deus não existe, os agnósticos dizem que Deus não fala, mas os crentes dizem que Deus nunca se cala.

No livro do Apocalipse, lemos: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). O nosso homem interior deve preparar-se para ser visitado por Deus, e por essa razão não deve deixar-se invadir pelas ilusões, pelas aparências, pelas coisas materiais.

Muitos homens e mulheres famosos, cientistas, filósofos, etc., que se diziam ateus, um dia foram tocados pela graça de Deus e entregaram o seu coração a ele. Muitos voltaram para Deus contemplando as estrelas, as equações da física e da matemática, observando as galáxias, ou perguntando o significado do amor e do sofrimento.

A evidência inegável é esta: atrás de um romance há sempre um escritor; atrás de um belo quadro há um pintor, atrás de um edifício há um construtor; atrás de um vaso há um oleiro…

Não é porque existem cegos que não podem contemplar a beleza do mundo, que ele deixa de ser belo. “O problema não está no mundo, mas na cegueira”, diz Jean Guiton. Não é porque alguns não creem em Deus e não o veem que Ele não existe.

Em nosso tempo não são poucas as conversões entendidas como retorno de quem, depois de uma educação cristã talvez superficial, afastou-se da fé por anos e depois redescobre Cristo e o seu Evangelho.

O Senhor nunca se cansa de bater à porta dos homens mesmo aqueles mais envolvidos em contextos sociais e culturais que parecem engolidos pela secularização, numa vida sem Deus. Posso citar alguns desses convertidos: Gilbert Chesterton, Vittorio Messori, Santa Edith Stein, André Frossard, Ernesto Sábato, Francis Collins, Fiódor Dostoievski, C. S. Lewis, Narciso Yepes, Pavel Florenskij, Dorothy Day e muitos outros. Vejamos alguns apenas.

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Nunca desanimar na luta contra o pecado: sempre é tempo de conversão!

Francis Collins era ateu; médico, químico e biólogo, coordenador do maior projeto de biotecnologia que o mundo conheceu, o Genoma Humano. Foi um dos responsáveis por um feito espetacular da ciência moderna: o mapeamento do DNA humano, em 2001. Um dia, diante de uma velha paciente cardíaca terminal, se converteu diante da fé da mulher. Ele disse: “Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas” (VEJA 24.01.2007). “A ciência tem o seu campo de ação na exploração da natureza, mas é incapaz de nos dizer por que e que existe o Universo, que significado tem a nossa vida ou o que podemos esperar depois da morte”.

Ernesto Sábato, escritor, que foi anarquista e comunista na juventude, abatido pelo sofrimento, a perda da esposa Matilde e do filho Jorge, volta-se para Deus: “No isolamento do meu quarto, abatido pela morte de Jorge, interroguei-me sobre que Deus parece esconder-se atrás do sofrimento”. “Reconforta-me a imagem daquele Cristo que também sofreu a ausência do Pai”.

Fiódor Dostoievski (1821-1881), autor dos romances “Crime e Castigo”, “O Idiota” e “Os Irmãos Karamazov”, vários anos preso na Sibéria, lendo o Evangelho na prisão, se converteu: “Tive-o sob a minha almofada durante os meus quatro anos de trabalho forçado. Lia-o de vez em quando, e lia-o para os outros”. Ele disse: “Eu não creio em Jesus Cristo como uma criança. Foi pela prova da dúvida que consegui o meu hossana”. Dostoievski escreveu:

Que havemos de fazer se Deus não existe, se for verdade que Raquitin tem razão ao afirmar que é uma ideia inventada pela humanidade? Nesse caso, o homem seria o rei do mundo. Magnífico. Mas eu pergunto como poderia agir bem sem Deus, a quem amaria o homem então, a quem contaria hinos de louvor?”

O Papa Bento XVI, na Audiência Geral de quarta-feira, de 13 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) narrou alguns
casos de pessoas importantes que voltaram para Deus. Ele começou contando o caso do cientista russo ortodoxo Pavel Florenskij. Depois de uma educação completamente agnóstica, a ponto de agir com verdadeira hostilidade para com os ensinamentos religiosos ensinados na escola, o cientista Florenskij encontra-se a exclamar: “Não, não é possível viver sem Deus!”, e a mudar a sua vida completamente, a ponto de tornar-se monge.

Depois contou o caso de Etty Hillesum, uma jovem holandesa de origem judia que morreu em Auschwitz. Inicialmente distante de Deus, descobre-O olhando em profundidade dentro de si mesma e escreve: “Um poço muito profundo está dentro de mim. E Deus está nesse poço. Às vezes eu posso alcançá-lo, muitas vezes a pedra e a areia o cobrem: então Deus está sepultado. É preciso de novo que o desenterrem” (Diário, 97). Na sua vida dispersa e inquieta, encontra Deus em meio à grande tragédia do século XX, o Holocausto. Esta jovem frágil e insatisfeita, transfigurada pela fé, torna-se uma mulher cheia de amor e paz interior, capaz de dizer: “Vivo constantemente em intimidade com Deus”.

Outro caso que o Papa contou, mostra a capacidade de opor-se às atrações ideológicas do seu tempo para escolher a busca da verdade e abrir-se à descoberta da fé. É o que aconteceu com outra mulher do nosso tempo, a americana Dorothy Day. Em sua autobiografia, confessa abertamente ter caído na tentação de resolver tudo com a política, aderindo à proposta marxista: “Eu queria andar com os manifestantes, ir para a cadeia, escrever, influenciar os outros e deixar o meu sonho no mundo. Quanta ambição e quanta busca de mim mesma havia em tudo isso!”.

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O caminho de fé em um ambiente tão secularizado era particularmente difícil, mas a Graça age da mesma maneira, como ela mesma ressalta: “É certo que eu senti muitas vezes a necessidade de ir à igreja, ajoelhar, curvar a cabeça em oração. Um instinto cego, poder-se-ia dizer, porque eu não estava consciente da oração. Mas eu ia, inseria-me na atmosfera da oração…” Deus a conduziu a uma consciente adesão à Igreja, em uma vida dedicada aos menos favorecidos.

Um caso maravilhoso foi o de Felix Leseur. Um jornalista francês materialista e colaborador de jornais anticlericais, que tudo fez para extinguir a fé da esposa, Elizabeth Leseur; forçando-a a ler obras de autores racionalistas, como “As Origens do Cristianismo” e a “Vida de Jesus” de Ernest Renan.

Após a morte da esposa, o viúvo Felix descobriu o Diário deixado por ela: “Journal et Pensées pour chaque Jour” (Jornal e Pensamentos para cada dia). A leitura destas notas impressionou Félix Leseur, que resolveu mudar de vida; uma vez convertido, fez-se frade dominicano e tornou-se grande propagandista das obras de sua esposa: além do journal… publicado em Paris (1917), editou “Lettres sur la Souffrance” (Cartas a respeito do Sofrimento), Paris 1918; “La Vie Spirituelle” (A Vida Espiritual), Paris 1918; “Lettres à des Incroyants” (Cartas e Incrédulos), Paris 1922.

Este belo caso mostra que Deus age sempre quando a gente reza; mesmo que possa nos parecer que nossa oração não teve sucesso. Deus está sempre presente e ouve quando rezamos com fé, humildade e perseverança. Não esqueçamos que Ele é bom Pai e nos ama. Portanto, cabe a nós “orar sem cessar” (1 Ts 5,17) e jamais desanimar; pois, mesmo após a nossa morte, Deus pode atender nosso pedido. A nós cabe rezar, a Ele dar a graça quando achar melhor. Seus caminhos não são os nossos.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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