“Cada momento de nossa existência, cada respiro, cada batida do nosso pulso, se assim posso dizer, cada clarão de nosso pensamento tem consequências eternas. Essa história sem igual nos será um dia apresentada, e será apresentada a todo o universo” (J.B. Bossuet, bispo de Meaux, + 1704).
Que tenciona o grande Bossuet dizer com tais palavras? – Vejamo-lo por partes.
1) O valor do tempo (…) Cada segundo deste tem seu correspondente na eternidade; é construção da vida definitiva. Sim, diz a Escritura que o homem é chamado a ver Deus face à face (cf. 1Cor 13,12); esta visão ocorrerá realmente, na medida do amor com que a criatura encerrar a sua caminhada terrestre. Daí a importância de se viver cada minuto em amor a Deus e ao próximo.
2) A Escritura desenvolve esta verdade, recorrendo à imagem dos livros que serão abertos no dia do julgamento final:
“Mil milhares o serviam, e miríades o assistiam. O tribunal tomou assento e os livros foram abertos” (Dn 7, 10; cf. Ap 20, 12).
A figura dos livros significa que os atos humanos constituem as páginas de um grande documento, que vem a ser a vida de cada pessoa. Sim; viver é escrever um livro, no qual tudo o que o homem faz é registrado. Quando refletimos sobre a nossa existência, talvez sejamos propensos a considerar alguns aspectos mais do que outros; algo talvez nos escape, quase apagado da memória pelo acúmulo de peripécias vividas posteriormente. Ora um dia tudo nos será recordado; veremos com objetividade o filme da nossa vida; alguns se surpreenderão talvez por verificar que as coisas pequenas vividas com fidelidade terão assumido elevado valor! Outros, ao contrário, se decepcionarão por averiguar que momentos aparentemente brilhantes serão tidos como ocos e comparáveis a bolhas de sabão.
3) E não somente cada indivíduo tomará consciência do valor de sua vida no termo desta caminhada. Quando o Senhor vier julgar todos os homens, o livro da vida de cada um será manifestado também a todos, pois a natureza humana é tal que os méritos e deméritos de cada um repercutem nos seus irmãos (…) Pensemos na enorme influência de uma palavra oral ou escrita, de um exemplo ou testemunho (…). Muitas vezes o entusiasmo ou o desânimo do nosso próximo se liga a uma atitude falada ou vivida por nós. Será muito importante que cada pessoa veja o que deve a cada qual de seus semelhantes (pais, educadores, mestres, figuras heroicas do passado …). Quem é ignorado ou esquecido, será reconhecido com seu valor próprio.
Este fascículo de PR, apresentando três artigos de espiritualidade, possa contribuir para avivar nos leitores a consciência do valor da existência presente e a alegria de viver um tempo tão rico de consequências definitivas!
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 348 – Ano 1991 – p. 241