4 lições espirituais dos monges orientais para a nossa vida cotidiana

A sabedoria dos Padres do Deserto tem o poder de transformar a nossa vida diária

A consagração pessoal a Deus dentro de uma comunidade foi se desenvolvendo em dois ramos distintos na história do cristianismo: o oriental e o ocidental.

Surgiu primeiro o monaquismo oriental, que influenciou São Bento na fundação da vida monástica no Ocidente.

As raízes espirituais do monaquismo oriental remontam a São Paulo Eremita, no século III, e a Santo Antônio, o Grande, pouco tempo depois. Sua formalização, porém, ocorreu com São Basílio de Cesareia e São Pacômio, no século IV. Por volta do ano 357, São Basílio viajou para a Palestina, o Egito, a Síria e a Mesopotâmia a fim de estudar a vida dessas comunidades monásticas e descobrir o seu segredo da santidade.

Embora admirasse o ascetismo severo e a devota vida de oração que os eremitas viviam, São Basílio considerou que os mosteiros precisavam de equilíbrio. Ele então escreveu uma espécie de “regra” para governar o cotidiano dos monges e moderar o seu modo extremo de vida. Graças ao grande sucesso dessa regularização, São Basílio seria reconhecido, mais tarde, como o “pai do monaquismo oriental”.

Essa vida completamente dedicada a Deus tem muito a nos ensinar no século XXI. A sabedoria de São Basílio e dos Padres do Deserto influenciou inúmeros santos ao longo dos séculos e ainda hoje é altamente relevante.

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Os monges do oriente e a espiritualidade bizantina

Estas são quatro lições espirituais que podemos aprender do monasticismo oriental e aplicar em nossa vida de todos os dias:

1. Ore sem cessar

São Basílio escreve:

“Devemos rezar sem cessar? É possível obedecer a tal mandamento? (…) A força da oração reside mais no propósito da nossa alma e nos atos de virtude que estendemos a cada parte e momento da nossa vida. ‘Seja que comais’, está escrito, ‘seja que bebais, ou o que quer que façais, tudo fazei para a glória de Deus’. Ao te sentares à mesa, reza. Ao levantares o pão, dá graças ao Criador (…) Ao vestires a túnica, dá graças ao Doador. Ao te envolveres no manto, sente um amor ainda maior por Deus, que, no verão e no inverno, provê nossas vestes convenientes, tanto para nos preservar a vida quanto para cobrir o que é impróprio à vista. Finda já o dia? Dá graças a Ele, que nos deu o sol para o nosso trabalho diário e nos fornece o fogo para iluminar a noite”.

Em essência: viva sempre em espírito de ação de graças, lembrando-se de Deus em todas as atividades. Assim viveremos a exortação de São Paulo a “rezar sem cessar”, pois não só com palavras sem faz oração!

2. Renove a sua alma com um “deserto” semanal

Em uma carta a São Gregório Nazianzeno, São Basílio escreve:

“A quietude é o primeiro passo para a limpeza da alma. A solidão é de grande utilidade quando aplaca as paixões e dá lugar ao princípio de cortá-las da alma”.

Há uma razão pela qual Deus nos deu um dia semanal de descanso: precisamos não apenas descansar, mas renovar a alma e experimentar a quietude. Não fomos feitos para trabalhar sete dias por semana. Quando chega o domingo, faça dele um dia de descanso e quietude, de acordo com o seu estado de vida.

3. Sirva aos pobres em todos os momentos

Os monges do deserto egípcio geralmente não viam muita gente, mas São Basílio recomendou aos seus monges que servissem aos pobres o máximo possível. Os monges fizeram isso com diligência, dando todas as suas posses aos pobres e continuando a apoiá-los mediante o seu trabalho em solidão.

São Basílio lembrava aos monges que o ato de retirar-se do mundo não os dispensava de servir aos outros, porque a sua fé cristã devia ser demonstrada no amor aos pobres.

4. Jejue para desarraigar pecados particulares 

Jejuar pode ser difícil, mas os padres do deserto viam no jejum um meio primordial de erradicar o pecado na vida de uma pessoa. Se o pecado deriva das nossas paixões, abster-nos da paixão corporal pela comida nos fortalece contra as outras paixões rebeladas.

São Basílio recomenda moderação no jejum, considerando que a saúde e os deveres são mais importantes do essa prática. Embora digno como todo meio espiritual, o jejum deve ser vivido com intenção reta, evitando o espírito de competição que se verificava, algumas vezes, nos primeiros mosteiros: sim, alguns monges “competiam” para ver quem se abstinha de comida durante mais tempo. É comum, aliás, que a soberba humana contamine práticas piedosas e as desvie do seu sentido autêntico, destruindo seus méritos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2017/06/14/4-licoes-espirituais-dos-monges-orientais-para-a-nossa-vida-cotidiana/

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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